Sombras de Silêncio #344

Depois de alguma discussão, o diretor do hospital permitiu que Girolme subisse ao quarto onde estava Alberto, devidamente acompanhado pelo segurança. Girolme ia rezando pela saúde do amigo, sempre com o olhar inquiridor do homem a seguir-lhe as intenções. Ao entrar num quarto, Girolme encontrou o amigo sozinho e deitado sobre uma cama. O segurança ficou à porta, adiantando-lhe cinco minutos de visita. Alberto ainda estava a dormir, com um braço algemado e outro a receber soro. A roupa estava pendurada numa cadeira ao lado da cama.

– Então, como é que está o amigo? – perguntou Girolme ao fim de quase dois minutos de indecisão se o deveria acordar ou não.

– Girolme?! O que é que lhe aconteceu? Ó homem, desculpe tudo. Eu estou perdido, não consigo andar! Não sinto nada… não sinto as pernas.

– É por que está preso, depois há de conseguir – disse Girolme, tentando animá-lo.

– Você não está a perceber. Eu estou paralisado! Não sinto nada! É o meu fim… e que triste que é. Deveria ter morrido de vez! – disse Alberto, apenas com a cabeça fora dos lençóis e com as lágrimas a correrem-lhe pela face.

Girolme, apesar de acreditar, não compreendia o que ele dizia, pois não tinha memória de alguém que, querendo, não conseguisse mexer-se.

– Mas isso é coisa de passar? – perguntou Girolme.

– É coisa de passar com a… morte. Estou paraplégico! Acabou tudo. Escute lá, faça-me um favor, veja ali no meu casaco – pediu Alberto. – Ande lá, que é importante; você tem de chegar a Maceira Dão. Meta a mão no meu casaco, perto do bolso. Está a sentir um buraco?

vejo nada – respondeu Girolme.

– Ora veja no outro… encontrou? Enfie lá a mão até ao fundo e tire o que lá estiver.

Girolme assim fez e encontrou o pano branco enrolado à volta de algo.

– Não o abra, peço-lhe. Acredite que você não quer isso na sua vida. Imploro-lhe que vá até Maceira Dão, mas antes de lá chegar, vai passar por uma aldeia chamada Vila Garcia; nessa terra procure pelo Asdrúbal, que é o pai do meu amigo Joca. Percebeu? Asdrúbal, pai do Joca. Entregue-lhe esse pano que ele compreenderá. E diga-lhe que ele… chegou a casa.

Sombras de Silêncio #344

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