O Trilho Maia é um percurso circular, com cerca de 17 quilómetros, que serpenteia pelas Aldeias de Magaio – Covas do Rio, Covas do Monte e Pena. Estas aldeias pertencem ao concelho de São Pedro do Sul, no distrito de Viseu. A palavra “Magaio” deriva de um antigo nome atribuído ao monte de S. Macário (GCR5C1). Este monte tornou-se famoso por ali ter vivido um eremita numa lapa. À distância dos séculos é impossível destrinçar a lenda da realidade. Porém, a santidade do eremita ficou para a posteridade e foi construída uma capela no lugar da lapa.
O Trilho Maia não é, por enquanto, um percurso oficial. Assim, não possui marcações ou sinalizações. O nome é também oficioso. Como nestas serranias, próximo de Póvoa das Leiras, já existia um Trilho Inca, alguns caminheiros nomearam este como o Trilho Maia. Bastará que a imaginação descubra um Trilho Azteca e estas Montanhas Mágicas reinventam uma América escondida dentro de portas!
Tratando-se de um trilho de montanha, para a sua realização aconselha-se alguma experiência em caminhadas mais exigentes. É também importante levar alimentação, água, roupa e calçado adequado. O track do percurso poderá ser analisado e descarregado aqui.
Como o Trilho Maia passa pelas três aldeias referidas é possível iniciar o percurso em qualquer uma delas. Porém, aconselha-se o início na aldeia da Pena, que será a mais turística. A estrada que desce para esta aldeia é estreita e torna-se importante avaliar se algum carro está a subir. Se tal acontecer, o melhor é aguardar a passagem do veículo numa das muitas curvas. Antes de chegar à aldeia deve deixar-se o carro no estacionamento e prosseguir a pé. A Pena fica encaixada no fundo do vale e as suas casas são maioritariamente feitas de xisto. Durante o inverno, o sol espreita apenas por breves momentos esta aldeia típica e esquecida.
Depois de uma visita à Pena, o Trilho Maia segue em direção a Covas do Rio pelo Caminho Onde o Morto Matou o Vivo. Este percurso mítico fura por um vale escarpado e acompanha a ribeira da Pena. O nome do percurso tem origem num episódio duplamente infeliz. Devido ao facto de, antigamente, na Pena não existir cemitério, os habitantes tinham que levar os defuntos para a Covas do Rio. Certo dia, e como o percurso tem uma parte inicial muito íngreme, um homem escorregou e o caixão caiu-lhe em cima, matando-o. No lugar onde ocorreu este acidente existem alguns moinhos envolvidos por uma vegetação luxuriante e o ribeiro vai descendo em cascatas. Aliando o geocaching à caminhada, neste local pode-se descobrir a cache “Dark Side of the Moon” (GC3BH45). Apesar de o percurso ser fácil de seguir e não revelar problemas de progressão, a zona onde está inserido é bastante selvagem e escarpada, pelo que se desaconselham os desvios.
À medida que as encostas se vão tornando menos abruptas o percurso aproxima-se de Covas do Rio. Esta é também uma típica aldeia de montanha, onde a estrada chegou já demasiado tarde. O percurso não passa pelo meio da aldeia, mas pode-se fazer um desvio para a explorar. Saindo desta aldeia, o percurso segue por um caminho rural que passa por algumas linhas de água, iniciando depois a subida, por um estradão, para Covas do Monte. A paisagem começa então alterar-se e as encostas ficam mais despidas; os caminhantes tornam-se mais pequenos na imensidão da serra.
À medida que as fragas se adensam surge a imagem de Covas do Monte, uma aldeia encravada no sopé da montanha, com os campos verdejantes e os assobios dos pastores de um dos maiores rebanhos comunitários de Portugal. À exceção de uma placa que anuncia a chegada da Internet, colocada sob um espigueiro, na aldeia parece existir um portal para o passado. As casas dividem-se entre o cimento e o xisto; o piso inferior é ocupado pelos animais e as pessoas habitam no piso superior, numa comunhão que sobreviveu ao tempo e às dificuldades da vida na montanha. Ao cirandar-se por esta aldeia pode descobrir-se que “É só cornos no ar!” (GC1RAPX).
Não será de forma fortuita que Covas do Monte fica a meio deste percurso. Quem quiser poderá degustar aqui as especialidades da aldeia, nomeadamente o cabrito. A antiga Escola Primária foi entretanto transformada em restaurante pela Associação “Amigos de Covas do Monte”. São os próprios habitantes que se revezam no trabalho, pelo que é necessário reservar previamente. Para além da excelência culinária, a simpatia também ajuda a tornar a experiência inesquecível.
Depois da visita à aldeia, o trilho secular (GC65RTD) sobe pela encosta do Portal do Inferno e acompanha o rio Pego. Esta será porventura a parte mais difícil do percurso e recorda aos caminhantes, pelo esforço, as dificuldades da vida na montanha. Quando lá em baixo, ladeados pelas escarpas vertiginosas, apenas se pode seguir em frente ou voltar para trás. Ao longo desta parte é possível vislumbrar algumas quedas de água, que poderão ser mais ou menos espetaculares dependendo da altura em que forem visitadas. As melhores estações são a primavera e o outono.
Após a grande subida alcança-se o asfalto, por onde se prossegue até ao cruzamento da estrada que desce para Covas do Monte. Seguindo pelo trilho, voltando a encosta, avista-se novamente o vale que alberga a Pena. Nesta parte, seguindo pelo caminho ladeado de sobreiros antigos, é possível visitar a cache d’O túmulo do homem morto (GC1P5F4). De regresso à aldeia, Vale a Pena (GC1T9DE) visitar o café local, onde se pode reconfortar o estômago com os melhores petiscos e licores da região. Para terminar da melhor maneira, os mais aventureiros poderão ainda imiscuir-se no desafio de descobrir a melhor vista para a Aldeia da Pena (GC1P5F4). Será a despedida perfeita! Não obstante o natural cansaço acumulado, é natural que fechem o último vislumbre da aventura numa vontade de regressar.
Artigo publicado na GeoMagazine #19.