O geocaching é um passatempo em que se usa um recetor GPS (global positioning system) para esconder/encontrar recipientes (geocaches) em locais de algum interesse (histórico, paisagístico, cultural, etc) ou cuja descoberta permita vivenciar uma determinada experiência ou conhecimento. Depois da colocação do recipiente, o dono deverá criar uma página web com informação sobre o local/geocache (incluindo as coordenadas). Após ser publicada por um revisor, a geocache poderá ser visitada por outros geocachers. De um modo geral, uma geocache deve conter um livro para registar as visitas e os geocachers podem depois fazer o registo online da descoberta/experiência na página da geocache. Por simplificação, uma geocache é também designada por cache. Para praticar geocaching basta possuir um recetor GPS outdoor dedicado ou um smartphone.
Como surgiu
O passatempo surgiu a 3 maio de 2000, dois dias depois de o governo norte-americano ter desativado a “disponibilidade seletiva” associada à tecnologia GPS, usada sobretudo pelos militares. Deixou então de ser imposta uma degradação ao sinal que aumentava consideravelmente o erro de localização dos recetores GPS. A partir desse momento a população civil pôde usufruir sem limitações, pessoal e comercialmente, das potencialidades desta tecnologia. Por curiosidade, e para aferir se de facto o fim da “disponibilidade seletiva” permitiria referenciar um determinado local através de coordenadas, Dave Ulmer, um entusiasta de tecnologia, escondeu um recipiente com um livro de visitas e itens para troca num local isolado do estado norte-americano do Oregon. Listou depois alguma informação, incluindo as coordenadas, num grupo de discussão na Internet. Alguns dias depois o recipiente foi encontrado por alguém que assinou o livro de visitas, trocou alguns itens e fez posteriormente o registo online da descoberta na página referida. Estava criada e encontrada a primeira cache do mundo!
Outros utilizadores também esconderam mais recipientes, que foram sendo encontrados ao longo das semanas seguintes. Meses depois, Jeremy Irish desenvolveu o conceito e criou uma plataforma (www.geocaching.com) que reuniu a informação de todos os recipientes escondidos até então, transformando a “brincadeira” num passatempo! A matriz inicial do geocaching mesclava, numa escala geográfica e global (geo), a descoberta e partilha, através da tecnologia GPS, de locais que possuíam algum tipo de interesse e que serviam para guardar temporariamente objetos (cache – palavra de origem francesa usada entre exploradores pioneiros, mineiros e piratas). Os recipientes passaram então a designar-se por “geocaches”. Daí surgiu a “caça ao tesouro dos tempos modernos”, como é normalmente apresentado o geocaching. Curiosamente, e como o geocaching pode promover o contacto com locais isolados e pouco explorados, existem de facto relatos de geocachers que foram à descoberta de caches e acabaram por encontrar tesouros reais.
Desde então, o geocaching evoluiu bastante, assumindo-se como uma forma diferente, e potencialmente mais interessante ou desafiante, de ficar a conhecer um determinado local ou vivenciar uma experiência. Contudo, a ideia-base é a mesma: esconder um recipiente, cujo tamanho e camuflagem podem variar bastante, num determinado local de interesse paisagístico, histórico, cultural ou pura e simplesmente pessoal; criar uma página web com informação sobre o local e as caraterísticas da cache, nomeadamente ao nível do tamanho e das dificuldades de encontrar o recipiente e do terreno onde ele se encontra, e permitir que outros possam ir à sua descoberta.
Graças a um crescimento exponencial existem atualmente mais 6 milhões de geocachers e mais de 2 milhões caches ativas em todo o mundo, colocadas desde as profundezas dos oceanos até à Estação Espacial Internacional, passando pelo cume do Everest. Portugal apresenta uma das comunidades mais ativas e expressivas em todo o mundo (por pessoa), com mais de 30 mil geocachers e mais de 25 mil caches ativas que podem ser encontradas.
Uma das vertentes mais relevantes do geocaching é o CITO (cache in trash out). Durante a prática do geocaching, os geocachers são motivados para a recolha do lixo que possa existir no percurso e nas proximidades da cache. A ideia base é deixar o local um pouco melhor do que foi encontrado. São ainda organizados eventos CITO, reuniões de geocachers em que o objetivo é limpar ou recolher o lixo de determinadas zonas, onde possam ou não existir caches.
Para além do livro de registos, nas caches em que se aplica, é também comum encontrarem-se itens de troca nos recipientes. São pequenos objetos e/ou brinquedos de valor normalmente simbólico. A regra básica é que apenas se deve efetuar uma troca no caso de o objeto que se deixa seja de um valor igual ou maior daquele que se levanta. Outra mais-valia do geocaching é a existência de trackables ou travel bugs (TBs) e geocoins, que são objetos aos quais estão associados códigos e que viajam de cache em cache, de acordo com uma missão predefinida.
Tipos de caches
Existem diferentes tipos de caches que podem ser colocadas e encontradas. As mais frequentes são:
Tradicional – É o tipo original de cache, o mais simples e um dos mais frequentes. O recipiente, colocado nas coordenadas publicadas da página, deve conter um livro de registos que deverá ser assinado por quem vier a encontrar a cache, sendo posteriormente realizado o registo online. Exemplo: Indiana Jones and the Mysterious Waterfall.
Multi-cache – Trata-se de uma cache com mais do que uma localização. Para chegar à localização final, cujo recipiente deve conter um livro de registos, o geocacher terá de seguir pistas ou coordenadas. O número de etapas e a extensão pode ser variável, desde poucos metros a centenas de quilómetros, podendo mesmo passar por vários países. Exemplo: Montanhas Nebulosas [PNPG].
Mistério – A descoberta das coordenadas implica, normalmente, a resolução a priori de um determinado mistério ou puzzle, cuja dificuldade pode ser muito variável. Posteriormente, no terreno, este tipo de cache poderá ter mais do que uma etapa, à semelhança de uma multi-cache, sendo que o recipiente final deverá conter um livro de registos. Exemplo: Gigantes.
Earthcache – É um tipo de cache em que não existe um recipiente físico. Nas coordenadas publicadas existirá algum fenómeno geológico, explorado e abordado na página da cache. Os geocachers devem responder a algumas questões sobre o referido fenómeno de forma a validar a descoberta. As earthcaches podem também ter mais do que uma localização. Exemplo: Geologia na praia.
Letterbox híbrida – Este tipo de cache evoluiu do passatempo de orientação Letterboxing, anterior ao geocaching. A partir das coordenadas publicadas são usadas pistas e/ou mistérios na evolução da cache, que poderá ter diversas etapas. Na localização final, o recipiente deverá um livro de registos e um carimbo, que não é um item de troca. Exemplo: A Relíquia do Paço.
Wherigo – Cache em que se usa um ficheiro (cartuxo), criado pelo proprietário e descarregado no sítio www.wherigo.com. Este cartuxo pode conter informações diversas e permite uma interação com objetos reais e virtuais através de um recetor GPS compatível para chegar à localização final, onde deverá existir um recipiente com um livro de registos. Exemplo: Porto’s Templar Secret.
Evento – Trata-se de uma reunião de geocachers, que pode ser temática. Na página da cache, para além das coordenadas, deverá estar assinalada a hora de início e final da reunião. Depois da realização do evento a cache é arquivada. Associado ao evento poderá existir um livro de registos para que os geocachers possam assinalar a presença. Exemplo: sunrise@Cântaro_Magro.
Evento CITO – Reunião de geocachers dedicada à recolha de lixo, reflorestação ou reparação de trilhos de uma determinada zona. Na página do evento CITO, para além das coordenadas, deverá estar referida a hora de início e final do mesmo. Poderá existir um livro de registos para os geocachers assinalarem a sua presença. Exemplo: Em busca do lixo perdido [Rio de Frades].
Mega evento – Trata-se de um evento em que participam mais de 500 geocachers. Exige uma logística de realização mais complexa e pode envolver mais do que um dia. Os geocachers que assistirem ao evento poderão assinalar a presença num livro de registos. Exemplo: Love Love… Aveiro.
Giga evento – Trata-se de um evento em que participam mais de 5000 geocachers. Exige uma logística de realização ainda mais complexa. Apenas em 2014 foi organizado o primeiro Giga. Tal como nos outros tipos de eventos, também poderá existir um livro de registos. Exemplo: Project MUNICH2014 – Mia san Giga!
Para além dos tipos de caches já referidos, existem ainda Geocaching HQ Geocache, GPS Adventures Maze Exhibit e as Lab Caches. Entretanto, as caches do tipo Virtual, Webcam, Project A.P.E, 10 Years! Event e Locationless foram descontinuadas.
Para evitar sobreposições de caches, os pontos físicos (intermédios ou final) de uma determinada cache devem distar mais de 161 metros (10% de 1 milha terrestre) de outros pontos físicos de outras caches. Por ponto físico entende-se algo que foi colocado no local pelo geocacher relacionado com a cache que se pretende criar. Se a informação já existir no local antes da colocação da cache não é considerado ponto físico (por exemplo, utilizar a data numa placa de um monumento para depois, através de cálculos, chegar às coordenadas do ponto seguinte/final).
Classificações
Um dos aspetos mais relevantes sobre a criação da listagem de uma cache prende-se com a classificação da dificuldade, do terreno, do tamanho do recipiente e ainda com o preenchimento de atributos. Estas informações são muito importantes para que o geocacher que irá à descoberta possa escolher as caches que são mais adequadas e possa compreender quais as possíveis circunstâncias envolvidas.
A classificação da dificuldade está relacionada com o quão complexo poderá ser resolver o mistério associado à cache (no caso do tipo Mistério) e fundamentalmente com o quão difícil é, estando no local, encontrar o recipiente. Na generalidade, como foi referido anteriormente, os recipientes estão camuflados e pode ser extremamente complicado deslindar a sua localização. Esta classificação varia de 1 até 5, do mais fácil para o mais difícil.
A classificação do terreno está relacionada com os eventuais problemas de acessibilidade do local da cache ou com a distância a percorrer. Varia também de 1 até 5, sendo que 1 significa que a cache deverá ser acessível por pessoas em cadeira-de-rodas e 5 pode implicar o uso de material específico ou conhecimentos e/ou técnicas avançadas de progressão (como por exemplo escalada e rappel).
Na listagem da cache é também necessário informar sobre o tamanho do recipiente, que pode variar desde micro (ou nano – mais pequeno que um dedal) até large (do tamanho da nossa imaginação). Existem ainda recipientes definidos como other, no caso de a classificação não se adequar a nenhum dos casos. Estes últimos podem ser os mais difíceis de encontrar, já que normalmente estão muito bem camuflados no meio envolvente (por exemplo, no interior de um pedaço de madeira insuspeito).
Os atributos, que podem variar de cache para cache, contêm informações diversas e importantes sobre a descoberta. Por exemplo: podem referir a possível existência de parque de estacionamento, se a cache é ou não aconselhada a crianças, qual o tipo de material aconselhado (luz UV para detetar pistas, barco, etc), se a cache pode ou deve ser feita de noite, se a descoberta pode representar algum perigo, se pode ser demorada ou qual é a distância a percorrer, etc.
Um outro aspecto relacionado com o geocaching é a possibilidade de cada geocacher poder escolher um nickname para usar no passatempo. O nosso é Valente Cruz (Ana Valente + António Cruz).
Geocaching em Portugal
Em Portugal, a primeira cache a ser lançada foi a AlfaRomeu Abandonado!, em 02/02/2001, cuja temática se pode intuir pelo título. Não chegou contudo a ser encontrada, pois o esconderijo acabou por desaparecer. Em 15/05/2001 foi colocada a Translant Chess Cache, a mais antiga que ainda se mantém em atividade. Desde então, o passatempo manteve sempre uma tendência de crescimento, em caches e participantes, até ter atingido um pico nos últimos anos pela disseminação dos smartphones. Com a evolução do geocaching surgiu uma comunidade bastante dinâmica. O primeiro fórum a ser criado foi o geocaching-pt.net. Alguns anos depois surgiu o geopt.org. Estes fóruns são excelentes espaços de informação e promoção do passatempo!
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