“Meu Pai Oxalá, neste dia que começa, venho pedir a paz a alegria e seu grande axé!
Reveste-me com a Vossa Luz e destrua as trevas que atravessarem meus caminhos.
Envolva-me em seu pano branco de paz, em tua Luz, a cada instante de meu dia.”
De regresso ao mundo encantado da cascata da Cabreia fomos surpreendidos por um estranho ritual de passagem, que para nós foi para o desconhecido. Por vezes a vida confronta-nos com encontros imediatos que não compreendemos, mas que ainda assim nos intrigam e apelam a um certo misticismo, tão popular como secular. Em certa medida será mesmo intrínseco à humanidade, quer seja por acreditarmos que a vida não é apenas “isto” ou pelo conforto de pensarmos que o fim afinal não é o “fim”.
Por terras de SeVer, rumámos à Silva Escura e descemos até à Cabreia para apreciarmos o desenlace das águas invernais sobre o vazio. Já por ali tínhamos andado numa fotoHistória passada e a fotografia captada naquele dia serviu mesmo para capa do livro “Um tesouro inesgotável”. Mais de cinco anos volvidos fomos de novo surpreendidos na cascata pelos caminhos da fé.
Depois de uma ligeira sessão foto-contemplativa vimos chegar quatro pessoas, duas delas vestidas de branco, empunhando um cesto de flores. Prosseguiram depois até à base da cascata e entraram depois na lagoa de águas tão cristalinas como geladas, pousando as flores sobre uma rocha. Maravilhados, fomos divagando sobre o que estaria a acontecer. Seria um casamento na natureza? Algum ritual contra o mau olhado? Uma entrada molhada pelas melhores expetativas para o novo ano? Não sabemos.
Aproveitámos para tirar mais algumas fotos contextualizadas e subimos depois a encosta verdejante a saltitar de dúvidas e admiração. Seguimos à descoberta do museu municipal de Sever do Vouga e, após a interessante visita pelo passado concelhio, em conversa com a simpática e prestável funcionária, que em má memória perdemos o nome, ficámos a saber que a cascata da Cabreia é por vezes palco de rituais misteriosos.
Resta apenas dizer que não tenho nada contra estes rituais ou credos. Apenas a curiosidade inata de uma criança a desvendar segredos ao mundo. Acreditar ou ter esperança que entrar em águas invernais vestidos de branco é a solução para algo é tão ou mais legítimo do que acreditar na ressureição de alguém. Cada um é livre para acreditar no que quiser ou melhor lhe remediar. Por mim, acredito que aquelas águas natalícias deveriam estar geladas. Quase tudo o resto desconheço. E como disse alguém, “ninguém tem necessidade daquilo que desconhece“.