Regresso a Pitões, à Serra do Gerês e à Terra-Mãe

 

Regresso ao Pitões

Regressar à Serra do Gerês é como rememorar uma identidade perdida no dia-a-dia de rotinas, trabalho e obrigações. Ali tudo parece subsistir num estado original e inalterado. Numa época em que as pessoas correm para os centros comerciais à procura de prendas, é bom regressar a este mundo primevo em busca de uma certa essência que nos vai escapando por entre os ritos da vida moderna. É bom regressar a esta simplicidade.

Fraga da BrazaliteEsta foi a quarta vez que fui a Pitões das Júnias. Mais uma vez vim de lá com a sensação que poucas terras sabem receber tão bem. Vejamos: na primeira vez que lá fui, em rota para terminar o desafio “PNPG’s MasterDegree”, ao passar pela aldeia, uma cadela levantou-se e fez questão de nos acompanhar e servir de guia numa caminhada pela montanha; na segunda vez que lá fui a aldeia ofereceu refúgio e conforto depois de fazermos uma travessia de dois dias pelas Montanhas Nebulosas, seguindo a linha de fronteira do parque nacional; na terceira vez tive tempo para conhecer melhor a simpatia das suas gentes, assim como as serranias envolventes; desta vez, depois de um excelente dia de caminhada, entro num estabelecimento onde tinha tomado um simples café três anos antes e a senhora reconheceu-me. É bom regressar a sítios que nos fazem sentir em casa.

AmontoadoComo Pitões das Júnias fica longe é necessário levantar cedo. Neste dia, o sol só haveria de aparecer cerca de duas horas depois. Porém, com as expetativas criadas não foi preciso despertador. Nem mesmo a chuva que caía fez esmorecer o ânimo. Após algumas paragens pelo caminho chegámos finalmente ao ponto de início da caminhada e deixámos os carros na última nesga de alcatrão. A partir dali seguiríamos por caminhos, trilhos e algum corta-mato. Afinal, normalmente, a aventura apenas começa quando acaba o alcatrão. A chuva, ainda que fosse
mais miudinha, continuava a cair, mas fizemo-nos ao caminho. Tratava-se de um percurso já conhecido e que tinha como momento principal a ascensão ao coto da Fonte Fria.

O nevoeiro instalado limitava-nos as vistas à paisagem imediata. Ainda assim conseguimos apreciar as formas outonais da floresta que subiste na zona inicial. Entrámos depois nos trilhos pastoris e progredimos até aos prados. Saímos então da zona de conforto e fizemos a primeira subida do dia em direção à Varanda do Conde. Durante a descoberta tivemos a oportunidade de reencontrar as palavras de Miguel Torga. Descemos depois para o vale e prosseguimos a caminhada. O nevoeiro ia dando tréguas e a paisagem emergia inóspita, enquanto a chuva continuava a cair miudinha. Estivemos alguns minutos a falar com dois caminheiros espanhóis que optaram por desistir da montanha pelas más condições e continuámos em direção às Gralleiras. Vagueando entre Espanha e Portugal, lá conseguimos alcançar mais este pico. O acesso às Gralleiras fez-se com entreajuda dos aventureiros, já que o último passo exige um esforço extra, em particular com piso escorregadio. No regresso do pico aproveitámos para almoçar junto a uma daquelas construções naturais geresinas que parecem irreais. Trata-se de um amontoado de blocos que parecem ter sido colocados por algum gigante. A construção também se poderia explicar pela erosão, mas prefiro a teoria do gigante.

Mosteiro

Depois do almoço regressámos pelo mesmo trilho e infletimos na direção da Fonte Fria. Chegados ao fundo do vale aproveitámos para realizar uma pequena sessão fotográfica e reavivar algumas boas memórias. Afinal, esta não era apenas uma viagem pelo espaço, mas também pelo tempo. Foi por esta altura que o céu começou a ficar menos carregado e o nevoeiro desapareceu. Olhando para trás já se conseguia avistar Pitões ao longe. A chuva também parou de cair e conforto foi melhorando.

PercursosLá em cima, o coto da Fonte Fria esperava a nossa visita. Passo a passo lá fomos subindo a longa encosta e chegámos ao último desafio. Com humidade torna-se difícil transpô-lo, mas bastou um cinto para nos puxar para cima. Foi bom reencontrar as vistas deste pico geresiano. Na única vez que aqui estive, depois de uma ascensão esgotante, encontrei um habitante local já de idade muito respeitável que todos os anos ali ia para cumprir uma promessa antiga. As montanhas têm este condão de nos aproximar da intangibilidade, mesmo que pareça uma ilusão. A descida decorreu sem sobressaltos e seguimos de regresso a Pitões pelo mesmo trilho.

Ao chegarmos aos carros aproveitámos para trocar de roupa e tivemos ainda tempo para visitar a aldeia, o mosteiro e a cascata. Inicialmente fizemos uma paragem junto ao VG para recebermos a melhor vista para Pitões. O sol pendia no horizonte e iluminava a aldeia com uma tonalidade fantástica. O verde da vegetação contrastava com os picos da Fonte Fria e da Fraga da Brazalite ao longe. São estas as encantadas montanhas nebulosas! Prosseguimos depois até ao mosteiro que, como é habitual, nos permitiu uma viagem pelo tempo. É pena que os edifícios limítrofes à igreja estejam ao abandono e à espera da inevitável derrocada. Tivemos ainda tempo de visitar a cascata do ribeiro do Campesinho, que fica a jusante do mosteiro. Seguindo o longo passadiço, foi fantástico reencontrar a queda de água com as cores outonais das árvores envolventes. Foi por pouco tempo que falhámos o pôr-do-sol com a luz a incidir na cascata.

Cascata de Pitões

Regressámos depois a Pitões e aproveitámos para comprar alguns produtos locais. No final deliciámo-nos com um jantar fabuloso no restaurante Dom Pedro de Pitões, onde tivemos a oportunidade de provar o melhor da gastronomia da região Barrosã. Para terminar em beleza, cirandámos mais um pouco pela aldeia e visitámos o Café Celta. Na fantástica companhia do André, Nélson, João, Ana, Bruno, Paula, Cidálio, Nuno, Américo, Vítor e José, foi bom regressar a Pitões. Foi bom regressar à terra-mãe da Serra do Gerês!

Grupo II

Tour “One for the road – Fonte Fria” – 8 de dezembro de 2015


 

Regresso a Pitões, à Serra do Gerês e à Terra-Mãe

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