Galafura, um miradouro encantado no centro do reino maravilhoso!
Cruzámos o rio Douro na Régua e continuámos por socalcos desconhecidos até reencontrarmos uma vista para o rio. Acabámos por acertar no dia de festa e chegámos à Galafura em plena hora de missa. Lá fomos andando de um lado para o outro, de olhar perdido entre as palavras de Miguel Torga, as vistas fantásticas e o sermão do padre. Parecíamos os notários de Deus, de caderninho no bolso às descobertas e máquina fotográfica em punho, registando imagens e memórias!
Entretanto, a missa terminou e as pessoas foram dispersando. A maioria procurou uma sombra para almoçar o farnel que haviam trazido de casa. Nós aproveitámos então a liberdade para um pouco de geocaching de qualidade (GCKGDF, GC4YTJJ) à guarda de olhares indiscretos.
Diz o poeta que esta paisagem é um abuso de Natureza. É também um assombro de beleza poder ler aqueles versos fantásticos, enquanto se troca as vistas entre as palavras e a paisagem. Não haveria melhor forma de o expressar. Nem sempre as imagens valem mil palavras, sobretudo quando se tem o dom de saber escolher as certas:
«O Doiro sublimado. O prodígio de uma paisagem que deixa de o ser à força de se desmedir. Não é um panorama que os olhos contemplam: é um excesso de natureza. Socalcos que são passados de homens titânicos a subir as encostas, volumes, cores e modulações que nenhum escultor pintou ou músico podem traduzir, horizontes dilatados para além dos limiares plausíveis de visão. Um universo virginal, como se tivesse acabado de nascer, e já eterno pela harmonia, pela serenidade, pelo silêncio que nem o rio se atreve a quebrar, ora a sumir-se furtivo por detrás dos montes, ora pasmado lá no fundo a reflectir o seu próprio assombro. Um poema geológico. A beleza absoluta».
Miguel Torga in “Diário XII”