“Olá António,
Eu sou tu e escrevo-te do futuro, a cerca de 20 anos de concretizares o teu sonho!
Por esta altura estarás certamente a pensar que isto de escrever histórias é porventura uma grande frustração! Está bem que a escrita, por só por si, é a melhor forma de viajar. Para além disso, foi fantástico que a professora de Português do 7º ano, à qual mostraste o conto que escreveste, tivesse gostado tanto que começou utilizá-lo nas suas aulas e sugeriu mesmo a ideia de avançar com a publicação do livro. Mas, a partir daqui, tudo se desvaneceu. Com uma esperança do tamanho da imaginação, o único manuscrito foi entregue a um colega para fazer as ilustrações da história. O tempo, já na altura inquieto, foi célere mas as ilustrações não apareceram. Com o final do ano escolar, o cenário piorou: a professora foi colocada noutra escola e o livro foi adiado. Para piorar, as ilustrações não passaram de rabiscos imaginários e o próprio “artista” acabou por desaparecer pouco tempo depois, deixando um espaço vazio em forma de desilusão. Deixa-me já precaver-te da tristeza anunciada: daqui a poucos anos vais ficar a saber que o “artista”, logo que teve oportunidade, vendeu a história que escreveste. Contudo, não faço a mínima ideia do que lhe aconteceu. Não sei se alguma vez o conto foi publicado.
De qualquer forma, e é isso que é importante, não desanimes! Muitas outras histórias virão ao teu encontro. Será uma longa viagem, com muitos percalços, mas não preciso de te incentivar pois já sabes que valerá a pena. E, quando surgir a oportunidade, uma dessas histórias ganhará o direito de existir por si. Não te quero estragar o prazer da descoberta mas o lançamento do teu primeiro livro será marcante. Na tua vida, irás encontrar muitas pessoas especiais, que insistirão em marcar presença, independentemente da distância. Outras lamentarão a indisponibilidade mas ficarão felizes com essa conquista! Não vale a pena descrever-te o local pois o mesmo ainda não foi construído. Não te esqueças de agradecer à família e amigos por tudo, assim como à editora que acreditará em ti. E agora, deixa essa tristeza em forma de um sonho desfeito e vai escrever qualquer coisa. Fico à espera, ansiosamente, por te reencontrar em mim!
PS: Relembro-me de ti, a levar um pequeno caderno para escrever essa história, algumas vezes para o meio da natureza. Sei que não vais acreditar nisto mas um dia vais descobrir um passatempo fantástico e com um nome esquisito: geocaching. Acho que vais gostar!”