As Arribas do Douro formam um monumento natural de excelência, sulcando o caminho da água pela pedra dura. De passagem pela região mirandesa, resolvemos iniciar esta viagem em S. João das Arribas (GC2KFW6), um miradouro de vistas engrandecidas sobre a paisagem envolvente. Manhã cedo seguimos para Vale de Águia e depois para Aldeia Nova, descendo posteriormente em direção à capela pela estrada de terra. O carro superou a distância sem dificuldades e estacionámos na primeira sombra que encontrámos. Num primeiro momento fomos espreitar as vistas a jusante. As vistas são verdadeiramente impressionantes. É o típico local onde apetece ter uma casa e acordar com aquele deslumbre matinal.
Após esta fantástica descoberta estendemos o olhar para montante. Estivemos algum tempo a analisar as curvas de nível e a distância, mas ainda assim decidimos que seria boa ideia fazer uma abordagem direta. Bem, na verdade, acabou por ser uma missão em solitário. Duas centenas de metros depois o trilho acaba por desaparecer. Arrependi-me então da abordagem e de ter levado calções. Felizmente tive o discernimento de não ir de chinelos. À medida que ia subindo fui descobrindo novas vistas sobranceiras sobre o rio e as pernas recebiam desenhos ariscos da vegetação. Vencida a distância, já perto do topo, fiz então a abordagem final para o penedo desejado de Escudo-de-Carvalho (GC5N04X). O local oferece vistas fantásticas para montante do rio, que se estende por arribas mais suaves. Para o regresso optei por seguir o caminho e fui a correr até à Aldeia Nova.
Regressei a S. João das Arribas em modo acelerado e segui à descoberta do vento a jusante (GC5P6J2). Seguimos até ao parque de merendas e por ali ficámos a analisar o desafio. A classificação do terreno assegurava ainda alguma aventura, pelo que a Valente, também pelo calor que se fazia sentir, optou por ficar por ali a baloiçar o marasmo. Vencida a distância fácil, cheguei ao local referenciado para a descida e investi pela encosta íngreme. Percebi também de imediato que não deveria ter ido de calções. O local oferece vistas fantásticas para jusante e está suficientemente perto da falésia e do rio para se sentir um certo friozinho na barriga. A subida ainda deu para suar um pouco, mas fui depois enfiar a cabeça debaixo da torneira junto à capela.
No final da manhã, no regresso a Miranda do Douro, passámos pelas Nalgas de São Mamede (GC39NYB). O local estava referenciado como de visita obrigatória e imperdível. O encontro tinha ficado marcado desde a primeira fotografia que vimos do cenário. Depois de Vale de Águia seguimos pela estrada de terra e cerca de 2 km depois vencemos a distância para mais uma descoberta memorável. Estacionámos no local recomendado e passámos de relance pelo antigo castro, seguindo para o miradouro. Serpenteando pelos trilhos, chegámos finalmente ao rochedo com vista para o rio e para o penedo gigante que se ergue do outro lado. Ficámos de imediato impressionadíssimos com a grandiosidade da paisagem envolvente. Apenas temos a lamentar que o rio, de montante a jusante, com o rochedo em frente, não coubesse todo na foto. Fomos cheios de expectativas para conhecermos estas Nalgas, mas na grandeza e magnificência natural do local ainda cabem muitas mais. Foi um daqueles momentos/locais que se eternizam na memória.
Depois de uma tarde à descoberta da secular e monumental cultura de Miranda do Douro, no dia seguinte aproveitámos para visitar o ponto mais a nordeste de Portugal, no coração da raia (GCXGD6). Pela manhã saímos de Miranda para Bragança, com passagem por Paradela. Ao vermos a seta turística a indicar o miradouro seguimos no seu encalço. Pelo caminho aproveitámos para cumprimentar a maior árvore do parque. Prosseguimos para o miradouro e estacionámos na parte superior. Fomos primeiro espreitar a vertigem daquele lado. As vistas são incríveis! Seguimos depois a pé para o miradouro que fica mais abaixo, com as vistas desafogadas sobre a barragem. O local é impressionante!
Mas a aventura não ficava por ali. Aliás, é depois que a aventura começa. Percebemos facilmente para onde tínhamos de ir e fomos descendo pelo trilho. Não é propriamente difícil, mas ainda assim deixa uma boa sensação de desafio. No local mais a nordeste ainda tivemos tempo para aprender sobre a marcação da fronteira, que ali parece ter sido traçada de forma quase casuística. Aproveitámos depois para almoçar junto ao primeiro miradouro. Afinal, não é todos os dias que se podem saborear aquelas vistas. Seguimos depois ao encontro de Rio d’Onor, arribados de saudades do Douro superior e das suas paisagens triunfais!