The d3vil is in the details

O grupo

The d3vil is in the details (GC5YX0K). Pelo seu contexto, este foi o evento ao qual ninguém desejaria ter vindo. Contudo, paradoxalmente, sendo certo que não se pode alterar o passado, este foi também o evento ao qual todos os que se sentiram tocados pela partida prematura do Roberto “d3vil” Costa gostariam de ter ido. O local escolhido para o evento/homenagem foi as Velas Brancas, próximo das Fichinhas (GC1MB2Y), no coração do Gerês. A escolha prendeu-se com o facto de este ser um dos próximos locais a ser visitado pelo Roberto.

Saltinho geresianoOs participantes seguiram à risca a hora de chegada ao local de estacionamento, perto da Cascata do Arado (GC110G4), de onde sairia a caminhada. Ninguém queria ficar para trás, tanto por respeito ao Gerês como à homenagem. Após algumas indicações iniciais dadas pelo Dragao88, os mais de 60 participantes dividiram-se em vários grupos e iniciaram o percurso. A passagem pela cascata serviu para um primeiro deleite das vistas. Subindo pelo trilho, alguns participantes fizeram um pequeno desvio para aceder ao prado (GC5Q3FH) e à lagoa (GC3TRVT) do Arado, local onde decorreu o primeiro banho do dia na tentativa para alcançar a cache. Prosseguindo pelo vale, os geocachers aproveitaram a chegada ao curral da Teixeira (GC1BR8X) para descansar e reagrupar. Ao redor, as encostas iam-se agigantando. Para quem desconhecia o percurso, tudo era novidade. Os que já sabiam do esforço que teriam pela frente iam resfriando o ânimo com a visão das dificuldades.

Logo de seguida, a subida para a descoberta d’O Santo Graal (GC1HZYT) marcou o primeiro teste físico do dia. Contudo, o verdadeiro desafio estava um pouco mais à frente, com a ascensão para a base da Roca Negra. Como seria de esperar, o grupo acabou por se esticar de forma natural. Do alto da encosta, os caminhantes formavam uma fila de intenções na imensidão geresiana. Pareciam formigas num rumo determinado. Entretanto, alguns participantes resolveram fazer um pequeno desvio ao Borrageiro e ao seu arco (GC49VTX). Subiu-se depois a visita à Roca Negra para completar a mítica Heart of Darkness (GC1471Q), numa ascensão ao píncaro geresiano. Este é um dos locais mais fantásticos desta serra! Talvez seja mesmo o mais fantástico. A vista para o vale e para a Rocalva, o rochedo mais icónico do Gerês, é memorável! Contudo, uma imagem não vale meia contemplação. É necessário estar lá para se perceber de facto o quão incrível é conquistar a Roca Negra.
RocalvaDepois de uma passagem pelo vale da Rocalva, o grupo seguiu para as Velas Brancas. Esta parte do percurso fez-se sem grandes sobressaltos. Chegados ao local, é impossível ficar indiferente às vistas para as Fichinhas (GC1MB2Y), Porta Ruivas (GC487F4), Sombrosas (GC1WGQ5) e para o vale do rio Touça (GC4FD0J). Parece que se está no céu geresiano, com um mundo aos nossos pés. Enquanto o grupo aproveitava para descansar e reforçar o estômago, juntaram-se os restantes participantes que tinham saído da Portela de Leonte (GCWDDE) e/ou que tinham vindo por outros percursos. A conversa e as memórias iam deambulando no alto da serra, enquanto o cansaço se ia esfumando na vivência de um momento especial. As Velas Brancas erguem-se de forma abrupta das Fichinhas e o rio Touça fura pelo vale assombroso numa pressa cristalina. Existe por ali algo que ficou perdido no tempo; uma natureza primeva que se manteve fiel a um compromisso indómito e pouco dado a humanismos. Parece um castelo de sonhos protegido pelas fragas, que o muralharam de pretensões inaturais.

Surgiu então a surpresa de uma nova cache a ser colocada na Serra do Gerês, Wish You Were Here (GC631HC ). Para além de se tratar de um recipiente individualizado e de ter também e um logbook personalizado, a cache contém ainda o artigo escrito por alguns amigos do Roberto e publicado na GeoMagazine #15, aquando da homenagem prestada. Por certo, todos aqueles que vierem a descobrir esta cache ficarão mais perto de saber quem foi o d3vil e algumas das aventuras que viveu. Depois de uma foto de grupo seguiu-se a colocação do recipiente. A escolha acabou por ser mais ou menos evidente, com uma vista triunfante sobre o vale do rio Touça. Houve ainda tempo para construir uma mariola de memórias perto do esconderijo.

PercursoO grupo seguiu depois na direção da Rocalva (GC1DC15), com um desvio para aceder ao Coucão (GC484V7). Já no prado da Rocalva, os diferentes grupos criados voltaram a juntar-se e a dividir-se posteriormente. Uns seguiram para o Cutelo de Pias em busca d’O Regresso do Rei (GC49ZBF) e outros para o prado do Vidoeirinho (GC53B14 ). Acabariam por se encontrar mais abaixo, descendo então o vale do rio Conho. Pelo meio fez-se mais uma paragem estratégica e inevitável no fantástico Poço Azul (GC3Q6AE), onde os mais intrépidos e calorentos aproveitaram para tomar um banho. A caminhada até ao final do percurso também não levantou grandes problemas, com mais algumas paragens/desvios para aceder à cache My Blue Lagoon (GC1D9PG), à Cabana do Velho (GC5EED7), no Curral da Malhadoura, e à Fonte das Letras (GC1WFRW). Para além do inevitável cansaço, foi extraordinário notar o sorriso de superação nos rostos dos participantes. É ainda de realçar a satisfação e o espanto daqueles que estiveram pela primeira vez no Gerês profundo! Certamente, muitos regressarão. Para o final, alguns participantes trouxeram bebidas para saciar a sede de todos. Com a chegada do grupo restante ficámos a saber que havia mais uma surpresa: a Clamie e o SurFreeMan tinham trazido um bolo para a comemoração de milestones. Os mais de 23 quilómetros (incluindo os desvios) concluíram-se em cerca de 12 horas. Este é sem dúvida um dos percursos mais emblemáticos do Gerês. O track pode ser consultado na página do evento (GC5YX0K) ou aqui.

Gerês rima com solitude. Normalmente, os grupos que por lá deambulam são pouco numerosos. Contudo, esta não foi uma caminhada normal. Neste dia, mais de 60 caminheiros, a custo de um longo e duro percurso, deslocaram-se ao Gerês profundo para celebrar a vida e a memória do Roberto, que, através de todos, também lá esteve! Não é fácil encontrar palavras sobre a sua partida prematura. Foi naturalmente um choque que abalou a comunidade de geocaching, os amigos e sobretudo os familiares. Uma lembrança atroz da Natureza que, de um momento para o outro, tudo pode mudar. Podemos levantar perguntas e tentar perceber o fio da meada, largando gritos ao vento, mas ficaremos na mesma. A vida, já se sabe, não se compraz com o nosso ideal de justiça. Com um sorriso no rosto, restam as lembranças e os bons momentos, multiplicados pela memória em homenagens como esta. Foi um prazer reencontrá-lo em todos nós no coração do Gerês!

Mariola de memórias

Artigo publicado na GeoMagazine #17.


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