A experiência de percorrer as arribas íngremes da costa vicentina preencheu o meu imaginário durante muito tempo. Agora, em jeito de recordação e ao reescrever sobre o tema, é inevitável cair pela vertigem do lugar comum e concluir que é verdadeiramente extraordinária! Num roteiro de locais, aventuras e geocaching de excelência, com o Filipe Marques, em busca do sol e rumo a sul, fomos à descoberta das arribas próximas da Praia da Pena Furada, no concelho de Vila do Bispo.
Chegados ao estacionamento, no topo acessível, a paisagem fantástica entrou-nos de tal maneira pelos olhos que os sinos dos sentidos tocaram a rebate. Seguiu-se uma breve análise de acessos e demorámos cerca de um milionésimo de emoções a decidir que iríamos à descoberta pelo trilho das arribas. Com os olhos postos no desafio, seguimos pela esquerda e encontrámos facilmente o início do trilho. Aquela parte inicial, serpenteando sobre a ravina, é uma maravilha inefável! Arrancámos depois numa correria desenfreada, em modo cinematográfico, como crianças à espera do primeiro Natal, e conquistámos o limite da terra. Pelas imagens, tinha ficado com a impressão que seria mais difícil. Porém, acabei por não sentir nas entranhas o horror dos abismos. No topo daquele mundo de inefabilidades (GC30HQ2), a descoberta surgiu sem dificuldades e fizemos o registo entre a solitude da arriba e a conivência do mar.
Entre as reminiscências de um passado de expectativas e um presente de concretizações, depois de estarmos no topo da primeira ravina, rumámos a ampulheta da vontade, descemos do monte e tomámos o caminho que segue na direção da praia em busca de mais uma ravina, onde Fernão Capelo Gaivota fez o ninho (GCED51). Os trilhos foram abertos e são mantidos pelos pescadores. Para além de serem bastante afoitos, são deveras inventivos e conseguem criar percursos quase impossíveis, muitas vezes com a ajuda de cordas. Quando chegámos ao lado norte do promontório ficámos, mais uma vez, fascinados com a paisagem, mormente com a praia e outro penedo que fica por ali, a meio do mar, numa ânsia de defesa da terra contra o avanço das águas. Para esse, aparentemente, os pescadores ainda não criaram acesso.
Prosseguimos depois pelo trilho e não demorámos muito tempo a chegar ao topo. Seguiu-se o momento, quase solene, da sua descoberta e posterior registo da passagem. Logo a seguir, com a ajuda das cordas lá colocadas, descemos aos locais de pesca. Não tínhamos o espírito dos pescadores, mas a vontade de desbravar os seus trilhos foi inexorável. Depois, retornámos pelo mesmo acesso vertiginoso. Quando chegámos ao estacionamento ficámos, por breves instantes, a contemplar aquela paisagem fantástica, numa promessa de um regresso futuro. Levámos dali um mar de coisas boas, a reviver em memórias futuras!