Esta foto foi tirada no amanhecer do dia 30 de junho de 2012 no Cântaro Magro, na Serra da Estrela. Da imagem emerge a silhueta do Roberto Costa, soerguendo-se da escuridão que nos rodeia e vislumbrando o horizonte. Imagino-o ainda com o seu sorriso caraterístico. A foto foi tirada pelo Américo Alves. Quando, no dia seguinte, a vi no Facebook do Roberto, fiquei de imediato fascinado. Sempre achei que esta imagem representava fielmente aquele momento e experiência.
Depois de terem passado o dia a fazer canyoning no Rio Teixeira, o Roberto e o Américo tiveram a amabilidade e a simpatia de fazerem muitos quilómetros até à Serra da Estrela para este “evento” no Cântaro Magro. Na altura não o referi aos amigos que me acompanharam, em que estavam também o Sérgio Reis, a Fernanda Vieira, a Sofia Silva e o Rui Silva, mas o grande objetivo desta experiência passava por marcar o início do livro que me tinha proposto a escrever, «O tempo inquieto».
Cerca de um ano depois, com o projeto terminado, no momento de escolher uma imagem para a capa provisória, inevitavelmente acabei por escolher esta. Criei então dois manuscritos, que guardo carinhosamente, em sítios distintos da memória. Foi por essa altura que voltei ao Cântaro Magro para um novo amanhecer. Pretendia também agradecer e devolver algumas palavras à montanha pela excelente experiência. De forma natural, esta foto serviu de inspiração para outras fotos que tirei naquele dia; pretendia sobretudo captar a mesma essência. Passou-se mais um ano e surgiu a possibilidade de publicar o livro. Teria então de decidir qual seria a capa do livro. Após algumas considerações técnicas, a decisão acabou incidir por uma foto minha.
Conheci o Roberto de forma inesperada e casual na parte superior do Rio Poio, em setembro de 2011. Tínhamos descido ao rio por trilhos distintos e encontrámo-nos lá em baixo para iniciar o percurso. Acho que nos entendemos muito bem desde o início e com o tempo aprendi a admirá-lo. Tal não é de estranhar, para além de uma afinidade natural, era muito fácil ser amigo do Roberto. Depois dessa aventura, reencontrámo-nos com alguma regularidade ao longo dos anos, geralmente em grupo. Partilhámos algumas aventuras pelas Serras da Estrela, da Freita e do Gerês. Foi com ele(s) que fiz o meu primeiro rapel e o meu primeiro canyoning. Aprendi muito com ele(s) e, não obstante a minha apreensão natural, tudo se tornava fácil e seguro. Adorei cada momento e experiência! Mesmo quando não estava com ele(s), gostava de acompanhar o que fazia(m). Tive ainda o privilégio e o prazer de receber os seus relatos em algumas caches/experiências que ajudei a criar. E de cada vez sentia-me como se estivesse a caminhar com ele(s).
Para além de uma perceção individual que cada pessoa que o conheceu terá sobre o Roberto, percebe-se facilmente a pessoa que era pela comoção que a sua partida criou. Tenho para mim que ele era um bom amigo, de sorriso fácil, com um humor refinado, íntegro, humilde, inteligente e aventureiro. Não é fácil encontrar pessoas assim e ter o privilégio da sua amizade.
Ainda sobre a experiência no Cântaro Magro, o Roberto escreveu: “A lua iluminava completamente o cântaro, nem precisámos de lanternas. Ainda melhor, quando desapareceu (lá para as 3 da manhã), deixou o céu pintado de estrelas, um cenário que não pode ser descrito por palavras.” Agora, é para nós que é difícil descrever por palavras o que se sente e é o Roberto que é uma estrela na nossa memória.
Espero um dia reencontrá-lo para outras aventuras. Nunca estará sozinho!