Fell Race Serra da Freita

Fell Race
Em 2013 interessei-me pelo trail running ao cruzar-me com um vídeo sobre o Ultra Trail Serra da Freita (UTSF). Conhecia boa parte dos trilhos por onde passava o percurso e fiquei fascinado com o desafio. Fiz uma primeira abordagem em caminhada e um ano depois participei na prova. Foi uma experiência absolutamente fantástica, sobretudo pelas poucas expetativas que tinha em terminar. É difícil descrever o que se sente ao cruzar-se a meta, depois de tantas dificuldades. Participei nesta prova pelo desafio pessoal de superação, já que não tinha objetivos de me tornar num atleta de trail. Desde então, a corrida ocasional acabou por tornar-se num vício saudável; faço-o sobretudo para me sentir bem. Depois da aventura UTSF 2014 apenas participei na Maratona do Gerês, tanto pelo prazer de regressar às montanhas geresianas como pelo desafio de correr uma maratona de características diferentes e mais desafiantes. Os fatores agregadores que me levam a participar em provas são sobretudo estes: “diferença” e “montanha”. Foi com esse espírito de procura de algo diferente na montanha que participei na Fell Race Serra da Freita 2015 (19 de dezembro).

ParticipantesO Cidálio Oliveira avisara-me de antemão que iria gostar e fez questão de me inscrever nesta prova. A ele o meu obrigado! Devido a alguns compromissos no dia anterior, acabei por passar de soslaio pelo sono e quando o despertador tocou ainda demorei alguns segundos a perceber quem era, onde estava e para onde deveria ir. No caminho para o Merujal reencontrei a paisagem da Freita e fiz questão de parar por alguns momentos na Mizarela para cumprimentar a Frecha. Chegado ao Merujal, e depois dos trâmites burocráticos da prova, seguimos para o local de partida. Lá em cima, perto do vértice geodésico (VG) de São Pedro Velho, o Moutinho tratou de clarificar como iria decorrer a corrida. Estava uma ventania de tal ordem que mal se percebeu o que era dito; literalmente, as palavras eram levadas pelo vento. No entanto, a ideia básica da prova era fácil de perceber: o objetivo passava por visitar 2 pontos altos que eram visíveis no horizonte, a alguns quilómetros de distância; a dificuldade residia em escolher o melhor caminho para lá chegar. De espada em riste, o sinal de partida foi dado e algumas dezenas de atletas foram lançados no desafio de conquista desta prova única.

Com o olhar no objetivo longínquo, e pela tentação de encurtar caminho, rapidamente fui confrontado com o tojo e com a carqueja. Aos poucos, mesmo equipado, as pernas começaram a sentir as consequências da minha pressa e de algumas decisões mais impulsivas. A vida bucólica no planalto da Freita sobressaltou-se pela passagem apressada dos corredores. As vacas, indiferentes ao rebuliço súbito, lá iam ruminando a vida. Quilómetro após quilómetro a distância foi encurtando e lá cheguei ao segundo ponto. Assinada a passagem, prossegui para o terceiro num ritmo interessante. Algures a meio percebi que tinha de ir a um outro ponto e ainda fiz um pequeno desvio. No meio da vegetação e das rochas, num percurso bastante técnico, nem sempre dava para correr. Contudo, é também esse o verdadeiro encanto das provas de montanha. Conquistado o terceiro ponto, apontei o olhar para o quarto e último ponto, no regresso ao São Pedro Velho. Seguindo mais ou menos em linha reta, fui-me esquivando aos obstáculos e tentei seguir os trilhos criados na vegetação. Na chegada ao final, no VG, reencontrei o vento assombroso; para tirar uma foto era preciso fincar bem os pés. No total, foram cerca de 11 quilómetros de prova em 75 minutos. Acabei por ficar em 7º da geral.

EntronizaçãoNo regresso ao Merujal aproveitei para tomar um banho reconfortante e preparei-me para o almoço-convívio. Apesar de ser um “cliente” habitual da Freita, era a primeira vez que iria comer no restaurante do Merujal. Agora, depois da experiência, apenas tenho a lamentar o tempo perdido. A Sopa da Pedra é absolutamente imperdível! Depois do almoço, o Moutinho, grão-mestre e “pai” do trail português, aproveitou para dar as boas novas das provas a realizar em 2016 pela Confraria Trotamontes. Recordo-me, aquando da inscrição na UTSF 2014, ter achado curioso o facto de a prova ser organizada por uma confraria. Pensava que as confrarias estavam dedicadas à alimentação e aos vinhos. Pois bem, esta confraria é verdadeiramente ímpar, pois está associada à Natureza. Seguiu-se a cerimónia de entronização de novos confrades, de espada em punho e com a boa-disposição em riste. Para o final ficou a entrega dos prémios. Para além da inscrição gratuita na UTSF 2016 aos vencedores, todos os participantes levaram para casa, literalmente, uma carrada de livros. Sim, de livros! No meu caso, cheguei a casa 20 vezes mais culto. É fantástico encontrar pessoas com interesses similares e escutar as suas estórias!

Num momento em que proliferam as provas de trail running, foi bom regressar às origens da corrida em montanha e imiscuir-me neste espírito de partilha e de convívio não-competitivo. No fundo, é isso que me faz apreciar este desporto; gosto de correr contra mim numa superação gradual das dificuldades e dos desafios. Para 2016, e como estou em falta com a Serra da Estrela, espero ter a oportunidade de participar numa prova pelos montes hermínios. Em relação ao Fell Race Serra da Freita, certamente regressarei. Até lá, bons treinos!

Momentos prévios


 

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