Numa tarde solitária pela montanha, fui refazer parte do trilho do Ultra Trail Serra da Freita, descobrir novos percursos e encontrar uma cache Brutal! (GC7324F) Estacionei em Póvoa das Leirias, onde já existiu uma placa icónica que “proibia dançar na estrada”. Desci a aldeia pelo PR das Bétulas em direção a Candal. Ao longe, e bem lá em cima, ainda senti o desafio da Besta a espicaçar-me a vontade. Mas hoje o destino era outro. O trilho até Candal já está revestido pelas folhas outonais. Não só pelas cores, o Outono talvez seja a melhor estação para fazer caminhadas/corridas pela montanha.
Fui de Candal a Cabreiros num esgar de alcatrão e entrei depois no turístico Caminho do Carteiro. Mesmo com poucos quilómetros nas pernas, fazer aquela descida em corrida é sempre um teste para os joelhos. Mas é também um consolo para as vistas, descobrir o vale de Rio de Frades a surgir inteiro aos nossos pés. A paisagem, apesar de ensombrada pelo incêndio do ano passado, mantém-se grandiosa e panorâmica.
Embalado pela descida, parei apenas no miradouro sobreposto ao Poço Oito. Aquela dupla cascata é uma verdadeira maravilha da Natureza! Um grupo de canyoning tinha acabado de fazer a descida e preparava-se para sair da lagoa. Fiquei por ali algum tempo em contemplação e lá prossegui pelo caminho. Parei apenas junto ao antigo edifício abandonado. Notei o trilho e pensei que o final deveria ser já ali. Dei a volta às vistas e fiz as contas à vida. Estranhei os cerca de 400 metros para finalizar a descoberta, mas pareceu-me que o local poderia fazer sentido. Desci então a encosta, passei pelo túnel e prossegui pelo rio. Andei por onde nunca tinha andado e fiquei com uma certeza: podemos pensar que conhecemos a zona, mas Rio de Frades é uma verdadeira caixinha de surpresas. Descobri mais umas minas suspensas sobre uma cascata/lagoa fantástica!
Depois de perceber que me tinha enganado nas contas, voltei para trás e subi a encosta a dizer mal da minha desatenção, que ameaçava alterar-me os planos para o percurso. Nesta segunda abordagem nem foi necessário olhar para o telemóvel e lá cheguei ao destino. Foi com alguma emoção que encontrei a cache, percorri os registos, reavivei as imagens na memória e senti as palavras escritas. Para além de algumas aventuras vividas com o André, recordo os interesses comuns. Em particular, as longas conversas sobre Rio de Frades, as suas minas e os tesouros por encontrar. Recordo ainda os planos de pesquisa e descoberta em conjunto, que infelizmente ficaram por cumprir. O André era um bom amigo e era sobretudo uma excelente pessoa!
Despedi-me de Rio de Frades a remoer a saudade e investi no percurso para Covelo do Paivó, feito maioritariamente por alcatrão, o que acabou por desgastar mais do que os quilómetros já percorridos. Ao chegar à ponte desci ao rio e tomei um merecido banho, preparação para a longa subida a haver. Tinha considerado a hipótese de subir para Candal pelo estradão, mas optei por arriscar uma subida desconhecida pelo percurso que me haveria de ligar ao Trilho Inca. Deixei a aldeia para trás, levantei o olhar e enfrentei a subida íngreme. Ao chegar ao topo recebi uma visão envolvente que me atenuou o cansaço. Após uma pequena paragem para reforçar as energias, segui pela crista do monte. Mais acima, os Dois Pinheiros pareciam uma meta. Prossegui depois para o Trilho Inca e foi com alguma melancolia que o redescobri despido pelo fogo. O destino estava mesmo ali. No final, os cerca de 23 km estavam bem pesados nas pernas. É sempre um prazer regressar a estas Montanhas Mágicas!