O legado Pink Floyd

the endless riverConheci os Pink Floyd, ainda criança, ao remexer nas cassetes que o meu irmão comprava. Entre elas encontrei A momentary lapse of reason. Na altura ficou sobretudo a curiosidade, num tempo em que a música estava a milhas de um download. Quando entrei para a universidade, os Pink Floyd já eram uma das minhas bandas preferidas mas foi apenas quando comprei o álbum Is There Anybody Out There? que fiquei verdadeiramente fascinado. Descobrir Dark side of the moon foi um êxtase de sonoridade. Desde então, não me atrevo a dizer quantas vezes já me perdi a ouvir o seu legado.

Numa semana em que os Pink Floyd lançaram o décimo quinto álbum de originais, The endless river, embarco numa viagem em busca pelo fantástico passado da banda, numa escolha pessoal da melhor música, do melhor álbum e do melhor espetáculo. Obviamente, não me considero um crítico de música; apenas sei do que gosto!

A melhor música – Wish you were here

So, so you think you can tell
Heaven from hell?
Blue skies from pain?
Can you tell a green field
From a cold steel rail?
A smile from a veil?
Do you think you can tell?

Did they get you to trade
Your heroes for ghosts?
Hot ashes for trees?
Hot air for a cool breeze?
Cold comfort for change?
Did you exchange
A walk on part in the war
For a lead role in a cage?

How I wish
How I wish you were here
We’re just two lost souls
Swimming in a fish bowl
Year after year
Running over the same old ground
What have we found?
The same old fears
Wish you were here

wish you were herePor certo será sempre relativo eleger uma música como a melhor. As variáveis são muitas e as opiniões facilmente podem extravasar qualquer lógica. No limite, e apesar do método parecer pouco credível, uma das melhores formas de avaliar a qualidade de uma música poderá ser através da chamada “pele de galinha”. Quanto a mim, esta, por ter mais sensações por cm2, bate toda a concorrência. Wish You Were Here é a faixa número 4 do álbum homónimo, lançado em Setembro de 1975 pelos Pink Floyd. Faz parte da fase mais profícua da banda, com álbuns conceptuais e de rock progressivo, com a excelência da composição de Roger Waters e com participações de grande nível dos outros membros da banda.

A música e o álbum giram em torno de Syd Barret, que anos antes tinha abandonado a banda por problemas do foro psíquico, associados ao consumo de drogas. O álbum inicia com a primeira parte daquela que é, para mim, o melhor exemplo do rock progressivo, Shine on Your Crazy Diamond, uma faixa profundamente intimista e em que, ao escutá-la, basta fechar os olhos para viajar por outros mundos; vagueia então pela forma como a indústria musical seduz e transforma as chamadas “estrelas” em seres vazios, em Welcome to the Machine e Have a Cigar, para depois explodir em Wish You Were Here.

Caso se interroguem sobre os primeiros sons da música, a sua gravação foi feita no rádio do carro de David Gilmour e a música que se escuta, aquando da mudança de estação, é a parte final da Quarta Sinfonia de Tchaikovsky. Uma outra curiosidade da música, e do álbum, é o facto de o próprio Syd Barret ter visitado os famosos estúdios de Abbey Road aquando da gravação do mesmo, sendo que os colegas não o reconheceram de imediato, tais eram as diferenças físicas e de alienação mental que apresentava. Conta-se que o reencontro foi profundamente triste para os elementos da banda, com as lágrimas a correrem-lhes pelo abismo em que o amigo estava mergulhado.

Em Wish You Were Here, logo de início, as notas da viola e da guitarra começam por sobrepor-se de um modo harmonioso, enquanto outros instrumentos se vão juntando. A sonoridade, apesar de relativamente simples na sua composição, é extremamente bela, apenas como as coisas mais simples da vida o conseguem ser. Quanto ao poema, por certo não terá a estética deslumbrante, por exemplo, dos poemas de Fernando Pessoa, mas na verdade tenho alguma dificuldade em encontrar outro, dentro do mundo exclusivo da música, que seja tão belo e profundo.

O autor começa por dispor ideias diferentes ou mesmo antagónicas, sobre a forma como se vê o mundo ou mesmo sobre como se vive (“And did you exchange a walk on part in the war for a lead role in a cage?”). O discurso, em forma de várias perguntas, estará unicamente voltado para Syd Barret e o autor interroga-se sucessivamente sobre se a alienação psíquica do ex-membro da banda distorceu por completo a visão que ele tinha do mundo, sublinhando as diferenças entre os dois. Após todas essas dúvidas e interrogações, o autor reconhece que, ainda que possa existir um mundo de diferenças entre os dois, ou pelo menos na forma como se vive, o que os une (“the same old fears”) é muito mais forte daquilo que os poderá separar. Parece-me legítimo concluir que os “velhos medos” serão os que, de um modo geral, mais atormentam a humanidade: o medo da solidão e o medo da morte. A música encerra então um amor humano e incondicional que visa aproximar diferenças. Se tudo o resto nos separar, a tristeza há-de juntar-nos um dia; resta-nos a saudade e a certeza que mais vale preenchermos desde já os momentos com a presença daqueles que nos fazem feliz, ainda que possam existir diferenças aparentes.

O melhor álbum – Dark side of the moon

dark side of the moonDark Side of the Moon é um álbum dos britânicos Pink Floyd. Para se perceber a sua importância no mundo da música bastaria olhar para os números, sendo por exemplo o álbum que mais semanas figurou na tabela Bilboard 200, mas prefiro, por enquanto, dedicar algum tempo às palavras. Dark Side of the Moon é um álbum conceptual, ou seja, a toda a sua estrutura subjaz um tema ou um conceito. Concretamente, o álbum aborda algumas pressões, aspetos ou situações que acabam por condicionar a nossa vida, tais como: o tempo, o dinheiro, a loucura, a solidão, a guerra e a morte.

Em termos sonoros é indubitavelmente um dos álbuns mais elaborados de todos os tempos, graças sobretudo ao facto de este ter sido o primeiro e único álbum em que os todos membros funcionaram efetivamente como uma banda e, por outro lado, à teimosia e desejo de perfeição que Roger Waters dedicou às partes instrumentais das músicas, com repetições e arranjos até à exaustão, facto esse que faz com que seja o álbum preferido dos audiófilos para testar a fidelidade das aparelhagens e outros instrumentos de som em todo o mundo.

Tal como nos outros dois maiores sucessos da banda, Wish you were here e The wall, Dark Side of the Moon é dedicado/inspirado a/em Syd Barret. Apesar de o nome permanecer incógnito para a maioria, este músico foi uma das pessoas mais geniais na música do século XX. Syd Barret fundou os Pink Floyd (ainda que no princípio a banda tivesse outros nomes) com Roger Waters, Nick Mason, Richard Wright e Bob Klose em 1964. Desde o início que Syd Barret foi o principal impulsionador da banda, quer como guitarrista, letrista e vocalista, arrastando-a inicialmente para um estilo que ficou conhecido como rock psicadélico, ainda que bebesse de outros géneros musicais, como o jazz e o blues (inclusive o nome da banda, escolhido por Syd Barret, deriva de dois músicos de blues, Pink Anderson e Floyd Council, que ele muito admirava).

Dark Side of the Moon saiu em Março de 1973, numa altura em que Syd Barret já não fazia parte da banda, devido à alienação psíquica associada ao consumo de drogas, e é considerado por muitos fãs, incluindo eu, a obra-prima dos Pink Floyd. O álbum é composto por 10 músicas:

  1. Speak to Me (Nick Mason) – 1:13
  2. Breathe (Nick Mason, David Gilmour, Roger Waters, Rick Wright) – 2:46
  3. On the Run (Gilmour, Waters) – 3:35
  4. Time/Breathe (Reprise) (Gilmour, Waters, Wright, Mason) – 7:04
  5. The Great Gig in the Sky (Wright, Claire Torry) – 4:48
  6. Money (Waters) – 6:24
  7. Us and Them (Wright, Waters) – 7:49
  8. Any Colour You Like (Gilmour, Wright, Mason) – 3:26
  9. Brain Damage (Waters) – 3:50
  10. Eclipse (Waters) – 2:04

Logo no início, em Speak to me, temos uma das características do álbum: os diálogos. Diversas faixas incluem diálogos de pessoas que a banda tinha entrevistado previamente sobre os temas do álbum.

“Live for today, gone tomorrow, that’s me…”.

Os entrevistados variaram desde as pessoas que trabalhavam no estúdio, como o porteiro ou a empregada das limpezas, até outras estrelas da música como Paul MacCartney, cujo diálogo, ironicamente, acabou por não ser incluído em alguma música. Importa aqui referir que, na altura, o ex-membro dos Beatles era provavelmente a pessoa mais reconhecida no mundo da música e os Pink Floyd eram uma banda ainda underground, como insistiam em afirmar-se. Segue-se a música Breathe, tornando-se notório que a fase inicial de Dark side of the moon corresponderá ao início da vida, onde ainda não existem problemas e tudo é encarado com uma inocência natural.

“For long you live and high you fly

And smiles you`ll give and tears you`ll cry

And all you touch and all you see

Is all your live will ever be (…)”

Mas cedo a sombra da lua começa a fazer-se notar. On the run é a música mais vanguardista do álbum. A faixa é composta basicamente por uma sequência de notas tocada num sintetizador, e repetida diversas vezes com a adição de vários efeitos e de várias colagens. É considerada por muitos como a primeira música eletrónica do mundo, prevendo o estilo musical que viria depois.

Segue-se Time, que é aquela que tem, para mim, a melhor letra do álbum. A música aborda a relevância que damos a diferentes aspetos da nossa vida e a forma como isso acaba por precipitar o “nosso” tempo numa esperança fugidia. Time tornou-se numa das imagens de marca do álbum e da banda, pelo famoso início com a mistura de sons do tic-tac dos relógios. Ainda nesta música, começa a observar-se o génio de David Gilmour com a guitarra.

Pegando numa composição de Richard Wright, a inconfundível voz de Clare Torry transformou, de improviso, The great gig in the sky num grito de loucura face à contemplação do negro abismo da morte. Face a esta inevitabilidade, a única coisa que apetece fazer é gritar de inconformismo pela nossa pequenez. Cinzas e sombras.

“And i am not afraid of dying. Any time will do; I don’t mind. Why should I be afraid of dying? There’s no reason for it – you’ve gotta go sometime.”

Money é provavelmente a faixa mais completa do álbum e é a melhor em termos instrumentais. A música aborda o consumismo fútil e, ironicamente, acabou por tornar-se no maior sucesso comercial do álbum. O som da caixa registadora ficou também como uma das imagens de marca de Dark Side of the Moon. Confesso que quando escuto esta música começo de imediato a bater com o pé no chão ou a simular o toque da bateria. Tem um ritmo fantástico. De referir ainda e novamente a perícia de David Gilmour com a guitarra.

Any Colour You Like é outra faixa instrumental, que une sintetizadores e a guitarra de David Gilmour. O título é uma referência a uma frase de Henry Ford, fundador da marca de automóveis com o mesmo nome, que afirmou sobre o automóvel Modelo T, considerado como o primeiro da produção em série: “you can have it in any colour you like, as long as it’s black”. Mais tarde, os Pink Floyd haveriam de voltar a abordar o tema da perda da individualidade, mas associado à educação, em Another brick in the wall.

A loucura passa por Brain Damage, naquela que é, provavelmente, a mais inspirada em Syd Barret:

“There’s someone in my head but it’s not me. (…)”

O álbum termina com a faixa Ecplise, uma espécie de resumo da vida. Se o álbum for uma viagem, esta música representa a eminência do fim. Um relance em que percebemos tudo o que fomos, o que somos e o que seremos. O último fôlego antes do abismo desconhecido. Uma vida guiada pelo sol mas coberta pela lua, sendo que não se pode escapar ao seu lado mais negro. O ponto alto do álbum ocorre, na minha opinião, nesta faixa. Já depois de a parte instrumental da música ter terminado, ouve-se:

“There is no dark side of the moon really. Matter of fact it’s all dark”

A autoria desta enigmática frase pertence ao porteiro do estúdio e fecha o álbum com a certeza que, para lá de todas as condicionantes referidas, viver é perder, sendo que é impossível escapar a esse destino. De certa forma, a conclusão do álbum reflecte a ideia que a linha que separa o bem do mal é muito mais ténue do que possamos imaginar e, no limite, nem sequer poderá existir; nós é que insistimos em dividir o mundo em pólos distintos, entre o céu e o inferno, talvez como forma justificar a nossa própria natureza.

O melhor espetáculo – The Wall

the wallNão me lembro propriamente do momento em que comecei a gostar da música dos Pink Floyd. Na verdade, acho que sou um fã de sempre. Mal ouvi que Roger Waters viria a Portugal apresentar o espetáculo The Wall, foi quase um deixar tudo o que estava a fazer e ir a correr comprar o bilhete. Durante quase um ano o título foi guardado na secretária como se fosse um tesouro. Não é que passasse por lá todos os dias para ver se estava tudo bem, mas às vezes não conseguia resistir.

Com o início da Primavera, em 21Lis03boa11, veio finalmente o dia do concerto que inaugurou a tour europeia. As expetativas estavam bem lá em cima mas ainda assim foram claramente superadas. Um espetáculo elaboradíssimo de som e imagem, aprimorado ao mais ínfimo pormenor, recheado de efeitos cénicos com porcos gigantes a sobrevoar o público, aviões em tamanho real a despenharem-se contra o palco e é claro a construção do famoso muro, que serve de tela de projeção para uma das imagens de marca do álbum.

The Wall é um álbum concetual lançado em 1979. Na altura, a banda realizou poucos concertos, já que toda a logística que estava associada ao espetáculo era absolutamente incomportável. Para além do famoso muro que ia sendo construído à medida que o espetáculo avançava, havia marionetas gigantes que deambulavam pelo palco e sobre os espetadores, o que exigia a presença de maquinaria pesada.

Os Pink Floyd sempre se assumiram como uma banda underground. Faziam a música que queriam, como queriam e quando não estavam nos estúdios de gravação ou nos concertos apenas queriam ser mais alguns entre a multidão. Demoraram muito tempo a compreender ou a aceitar que o simples facto de serem reconhecidos por algo que faziam, os transformava de imediato em pessoas especiais ou estrelas. Enquanto outros procuravam a fama, o dinheiro, o reconhecimento, eles começaram apenas por ser um grupo de rapazes que amavam a música e que tinham uma ideia muito pessoal sobre a mesma. A este nível é muito curiosa a opinião de Roger Waters sobre o álbum Dark Side of the Moon, que ele afirma ter sido uma espécie de “princípio do fim” da banda, pelo sucesso mundial que o mesmo alcançou e na forma como isso alterou e “aliciou” cada um dos membros da banda.

Antes de mais, para se entender o álbum é preciso compreender dois pormenores com bastante relevância: Roger Waters tinha uma relação difícil com o público e o seu pai tinha falecido durante a 2ª guerra mundial. Aquando da digressão do álbum Animals, num espetáculo no Canadá, Roger Waters teve uma altercação com um fã, que estava a ter um comportamento perturbador, e chegou mesmo a cuspi-lo. Foi deste incidente, um pouco sinistro, que nasceu a ideia de criar um muro que separasse a banda do público. A esta ideia juntou-se a ausência que o autor nunca conseguiu ultrapassar pela morte precoce do pai, militar morto em combate durante a 2ª guerra mundial. Importa aqui referir que, na altura, e ao contrário do que acontecera em Dark Side of the Moon, Wish You Were Here ou mesmo em Animals, Roger Waters assumira a maioria da composição e os outros elementos passaram a ter um papel menos relevante. Inclusive, Richard Wright foi despedido da banda, mas continuou a tocar nos concertos ao vivo como um músico pago, facto esse que permitiu que apenas ele não tivesse ficado praticamente falido depois do álbum The Wall. Aliando-se às duas ideias anteriores, junta-se a omnipresença de Syd Barret, que terá sido a maior inspiração na criação da personagem principal do álbum: Pink.

A história retrata, em ficção, a vida de um anti-herói, que é martelado e espancado pela sociedade desde os primeiros dias da sua vida: sufocado pela mãe, oprimido na escola (Another Brick in the Wall), ele cresce e transforma-se num ídolo de música pop. Rodeado pelo abismo da ausência, numa vida vazia, ele constrói um muro na sua consciência para isolá-lo da sociedade e refugia-se num mundo de fantasia que criou para si. Durante uma alucinação provocada pela droga, Pink transforma-se num ditador fascista e, depois das perseguições, a sua consciência rebelde coloca-o num tribunal, onde seu juiz interior ordena-lhe que mande abaixo o seu próprio muro e se abra para o mundo exterior. O álbum termina então com uma luz de esperança para o futuro.

The Wall é o álbum mais visual da banda e as músicas seguem um sentido lógico e temporal. Em termos instrumentais, a maioria das faixas estão ligadas entre si. Estes factos criaram a noção que o álbum é uma ópera rock, sendo que a sua qualidade, aliada ao sucesso, rapidamente despertaram o interesse do cinema. Foi Alan Parker, enquanto realizador, quem se chegou à frente e transformou a história num filme, em 1982. Ironicamente, e apesar de ter participado na escrita do guião, Roger Waters não gostou do resultado final e afirmou que não conseguia identificar-se com a personagem do filme. Uma associação lógica e imediata que se pode estabelecer em torno do álbum é com o muro de Berlim, que caiu em 1989. Essa é de facto uma das imagens de marca do álbum, mas penso que o muro começou por ser sobretudo psicológico, sendo que houve depois uma agremiação natural do conceito.

Com a passagem dos anos, e como fez questão de sublinhar no espetáculo no Pavilhão Atlântico, Roger Waters melhorou, e muito, a sua relação com o público e usou o álbum como o seu “cavalo da batalha” para fazer críticas sociais, revelando a preocupação do autor sobre as vicissitudes da vida moderna, particularmente sobre a guerra e os interesses económicos e políticos que se sobrepõem ao valor da vida humana, factos que tornam The Wall num álbum absolutamente intemporal.

As músicas, e algumas informações diversas do álbum, estão descritas na tabela seguinte:

Vinil 1 – Lado 1
# Título Compositor(es) Duração
1.  In the Flesh? Waters 3:19
2.  The Thin Ice Waters 2:27
3.  Another Brick in the Wall (Part 1) Waters 3:21
4.  The Happiest Days of Our Lives Waters 1:46
5.  Another Brick in the Wall (Part 2) Waters 3:21
6.  Mother Waters 5:36
Vinil 1 – Lado 2
# Título Compositor(es) Duração
1.  Goodbye Blue Sky Waters 2:45
2.  Empty Spaces Waters 2:10
3.  Young Lust Gilmour, Waters 3:25
4.  One of My Turns Waters 3:35
5.  Don’t Leave Me Now Waters 4:16
6.  Another Brick in the Wall (Part 3) Waters 1:14
7.  Goodbye Cruel World Waters 1:13
Vinil 2 – Lado 1
# Título Compositor(es) Duração
1.  Hey You Waters 4:40            
2.  Is There Anybody Out There? Waters 2:44
3.  Nobody Home Waters 3:26
4.  Vera Waters 1:35
5.  Bring the Boys Back Home Waters 1:21
6.  Comfortably Numb Gilmour, Waters 6:24
Vinil 2 – Lado 2
# Título Compositor(es) Duração
1.  The Show Must Go On Waters 1:36            
2.  In the Flesh Waters 4:13
3.  Run Like Hell Gilmour, Waters 4:19
4.  Waiting for the Worms Waters 4:04
5.  Stop Waters 0:30
6.  The Trial Bob Ezrin, Waters 5:13
7.  Outside the Wall Waters 1:41

Another Brick in the Wall tornou-se na música mais reconhecida do álbum. Porém, pessoalmente, considero que a música mais completa, em termos instrumentais e de composição, é Comfortably Numb, cuja profundidade da letra nos leva para um mundo sem sentidos ou e/ou sentimentos, alheados da realidade. Contudo, se tiver que escolher um momento do álbum, devo dizer que o meu preferido é a música Stop, que é curiosamente a faixa mais curta:

“Stop

I wanna go home

Take off this uniform

And leave the show

And i’m waiting here in this cell

Because I have to know

Have I been guilty all this time?”

É nesta música que a personagem tem a perceção do vazio em que a sua vida foi mergulhada e ela precede o “julgamento”, onde é ordenado que o muro seja deitado abaixo (que é em termos cénicos, no espetáculo, o clímax da história).

Sempre achei nesta música um sentido muito peculiar e que pode ser encarado quase como um devaneio da vida moderna. O desejo de largar tudo e voltar para casa. Não se trata de voltarmos para as quatro paredes onde vivemos, mas o lugar-sentimento a que chamamos “casa” e onde gostamos de regressar. O conforto da felicidade; o colo da mãe numa noite de inverno; um abraço de um amigo que perdurou no tempo; qualquer coisa que nos mantém em segurança pela vida fora. Afastamo-nos desse momento e continuamos a lutar; seguimos o nosso caminho; rodeamos a nossa vida de grilhões e habituamo-nos à ideia de viver numa cela. Muitas vezes queremos regressar, mas continuamos, não propriamente pela culpa, mas apenas por querermos provar que somos capazes.

Um projeto megalómano apenas possível de concretizar graças ao desenvolvimento da tecnologia!

Um espetáculo nascido de um génio da música!

Um manifesto de vontades!

Um testemunho de intemporalidade!

Um privilégio para recordar!

concerto

Ainda os Pink Floyd

pink floydPara além dos temas já abordados, numa seleção pessoal entre o melhor álbum [Dark Side of the Moon], a melhor música [Wish You Were Here] e o melhor espetáculo [The Wall], os Pink Floyd produziram naturalmente muito mais trabalho que merece ser apreciado. Um desses exemplos é Shine on Your Crazy Diamond, uma música inicialmente dividida em duas partes com que inicia e termina o álbum Wish You Were Here e que é porventura um dos melhores exemplares de rock progressivo, em que os vários instrumentos se vão adicionando numa composição muito profunda e tocante, cuja letra é, mais uma vez, dedicada/inspirada a/em Syd Barret, que anos antes tinha abandonado a banda por motivos de alienação psíquica associada ao consumo de drogas.

Apesar de ter estado relativamente pouco tempo nos Pink Floyd, Syd Barret influenciou bastante todo o trabalho que veio a seguir a ele e é muito difícil escutar The Piper at the Gates of Dawn, o primeiro álbum da banda lançado em 1967, sem pensar no que teria sido dos Pink Floyd se Syd Barret continuasse como compositor, guitarrista e vocalista.

Após alguns momentos conturbados, os Pink Floyd, já com David Gilmour no lugar de Syd Barret, lançaram em 1971 o álbum Echoes que terminava com uma música homónima. Trata-se também de uma das melhores composições da banda e é normalmente considerada como a música que definiu e iniciou o estilo muito próprio do que os Pink Floyd fariam de seguida, servindo um pouco como “molde de sonoridade” aos quatro outros álbuns que a banda lançaria durante a década de 1970.

Em 1977, já depois do sucesso mundial, os Pink Floyd lançaram o álbum Animals que, apesar de não ter atingido o mesmo êxito que Dark Side of the Moon, Wish You Were Here ou The Wall, está também muito bem conseguido. Animals é um álbum concetual, inspirado na fábula  Animal Farm [O Triunfo dos Porcos] de  George Orwell, e é composto por cinco músicas, sendo que três delas servem para resumir a humanidade segundo a visão de Roger Waters, na medida em que cada Homem pode pertencer ao grupo dos Dogs (Homens de negócios) ou Pigs (Políticos corruptos e moralistas) e no caso de não pertencer a nenhum dos anteriores é “apenas” uma Sheep (os que seguem os outros):

“Have you heard the news?

The dogs are dead!

You better stay home

And do as you’re told.

Get out of the road if you want to grow old.”

Após The Wall, Roger Waters insistiu na temática e compôs The Final Cut mas os resultados não foram os esperados, o que aliado à forma um pouco “déspota” como ele conduzia os destinos da banda, levou a sucessivos desentendimentos entre os membros e ao final dos Pink Floyd.

Porém, em 1987, Gilmour,  Wright e Mason, depois de uma batalha legal contra Roger Waters sobre os direitos de autor e a utilização do nome da banda, “re-fundaram” os Pink Floyd e compuseram um novo álbum, A Momentary Lapse of Reason, voltando à “estrada”. Já em 1994 os Pink Floyd lançaram o seu último álbum de originais, The Division Bell e no ano seguinte fizeram uma grande turnée mundial que deu origem ao álbum ao vivo PULSE. Apesar de continuarem com resultados satisfatórios, sobretudo devido ao nome que entretanto tinham construído, é um facto inquestionável, até pelos próprios membros, que a qualidade musical e de composição foi inferior quando comparada com outros tempos. Curiosamente, também a carreira individual de Roger Waters após ter saído da banda não teve o mesmo esplendor.


O legado Pink Floyd

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