Décima primeira edição. Atrasado no calendário, mais de dois meses depois do solstício de verão, rumei à Estrela para mais uma edição em modo solitário do sunrise@CântaroMagro. Cheguei ao estacionamento do Cântaro a meio de uma tarde soalheira. Com menos tempo disponível, o plano inicial era fazer um pequeno treino na zona envolvente. Porém, a fome de serra acabou por alargar-me os horizontes e as expetativas.
Desci pelo abrupto trilho na direção do Covão Cimeiro em modo de corrida e passei pelos meandros secos do Zêzere. A meio do caminho para o Covão d’Ametade resolvi complicar a abordagem, seguindo por atalhos e trabalhos em direção à Pedra do Equilíbrio. A abordagem em linha reta pela encosta não foi fácil, mas permitiu reduzir a distância e alcançar um local desejado há algum tempo. Lá em cima reencontrei as benditas mariolas serranas, que nos guiam sempre por bons caminhos. Apesar de a razão e a experiência aconselhar que as seguisse, acabei por embrenhar-me num outro atalho para o trilho que sobe para a Lagoa dos Cântaros.
Passadas as dificuldades de progressão, ao encontrar o trilho tudo se tornou mais fácil. Cheguei à lagoa quando esta já estava coberta pela sombra do gigante. Não me demorei nas fotos e prossegui pela crista rochosa lateral. Desde a última vez que ali passei, o trilho tornou-se mais fechado e escondido, tornando-se ainda mais desafiante. Ainda assim, fiz a subida num fôlego; talvez a encosta do Cântaro Gordo esteja menos inclinada ou eu estou melhor nas subidas difíceis. Lá em cima, a vista é deslumbrante até ao vale do Zêzere. Depois torna-se um pouco mais cinzenta pelos incêndios recentes. Desci depois do Cântaro em corrida, atravessei o planalto e cerca de três horas após o início da caminhada regressei ao estacionamento do Cântaro Magro.
Com tudo preparado, fiz-me a mais uma subida do Cântaro Magro. Já terão sido mais de vinte, mas de cada vez é como se fosse a primeira, mormente pela impressionante sensação de subir a um destino intransponível, como se o trilho escondido fosse um verdadeiro caminho em segredo para o céu. Lá em cima reencontrei o silêncio, numa contemplação circular do horizonte.
Caiu depois a noite. Na companhia de um céu estrelado e omnipresente, uma brisa fria ia soprando notícias do mundo. Voltei-me então para um sono leve e solitário com sucessivos ajustes da posição, até que acertei com o sonho. Acordei um pouco antes da hora certa para o nascer do sol do meu novo ano, que pode sofrer mudanças de calendário, mas no espírito mantém-se constante. O sol pode continuar a nascer todos os dias no mundo inteiro, mas no Cântaro Magro continua a ser especial.