Passaram 5 anos desde que havia organizado um evento de recolha de lixo – CITO – em Rio de Frades, um paraíso perdido nas entranhas da Serra da Freita. É sempre bom regressar a este local, tão magnífico pela sua beleza natural, quão enigmático pelos seus segredos. Chegámos à aldeia a meio de uma manhã de nevoeiro, que logo depois abriu para um dia de calor à beira-rio. Após um apontamento inicial lá seguimos pelo Caminho do Carteiro na direção de Cabreiros, no encalço de um percurso histórico. Tal como há dezenas de anos, com boa preparação física, talvez seja mais rápido fazer os cerca de 3 km a pé pelo trilho escarpado do que os cerca 30 km de automóvel por estradas sinuosas.
Após uma subida inicial, o percurso prossegue a meio da encosta, com rio em cenário de fundo. Para onde quer que se olhe é possível descortinar vestígios de exploração mineira, quer seja pelas entradas das minas, os trilhos rasgados na paisagem ou pelas escombreiras deixadas ao esquecimento do tempo. Na chegada à ponte deixámos o percurso e fomos até às primeiras cascatas/lagoas, onde inicia o percurso de canyoning do troço inferior. Para os mais aventureiros começava então percurso mais radical pelo rio, que é dos meus preferidos por aquelas bandas, enquanto a maioria voltou para trás pelo mesmo trajeto. Apesar da tecnicidade, o grupo soube ultrapassar os obstáculos, incluindo uma descida por uma frecha escarpada. Chegados à parte superior da cascata Indiana (Poço Oito), num cenário incrível, subimos então por uma linha de água e fomos reencontrar o Caminho do Carteiro.
De volta à aldeia, seguimos na direção do túnel para um almoço à beira-rio. Um dos encantos desta zona é precisamente atravessar a escuridão do acesso ao rio e desvendar em primeiro plano aquela cascata, num cenário de beleza natural que nos prende o olhar. Depois do repasto iniciou-se a subida do rio. Como o inverno foi longo, o rio acabou por ter mais água, pelo que foi necessário molhar os pés mais cedo e ter outros cuidados nas passagens mais escorregadias. Com os obstáculos vencidos chegámos por fim a um dos locais mais fantásticos que conheço. Tudo ali parece perfeito, desde a sua inacessibilidade, as cascatas sucessivas, as lagoas de águas cristalinas com as cores da natureza e do céu e, é claro, aquela misteriosa gruta por trás da cascata.
Apesar de a água estar fria, seguiram-se várias tentativas de chegar ao cálice, enquanto o resto do grupo assistia desde o conforto da beira-lagoa. Recordei então um dos momentos mais incríveis de que tenho lembrança, quando, entre o mito e a realidade, sem saber muito bem ao que ia, entrei pela primeira vez naquela gruta, depois de uma descida pela cascata. Inesquecível!
Com ajuda de uma corda, outro material e muita experiência, o Indiana Joom lá conseguiu vencer o desafio e soube merecer a descoberta. Entretanto, chegara à cascata mais um grupo de canyoning e ainda estivemos a ver as manobras. Chegou depois o momento de regressar e descemos o rio até à zona da mina. Porém, a aventura ainda não tinha terminado. Faltava descer mais um pouco, até à cascata Abismo.
O percurso é um pouco menos técnico e mais rápido, mas também não é propriamente fácil. Todavia, o grupo soube ultrapassar os obstáculos e encontrámos mais um cenário fantástico, com uma cascata vertiginosa e mais uma lagoa encantadora. Ao lado, sobre a cascata, um pequeno labirinto de minas. Depois da descoberta, descemos até à lagoa para o último banho do dia. Dali retornámos à passagem da mina e regressámos a Rio de Frades.
Num cenário paradísico, entre o espanto e a meio da aventura, no Caminho do Carteiro e nos percursos de rio, fomos recolhendo o lixo perdido, deixado pelo desleixo de outros e/ou trazido pelas águas invernais. No final, ainda deu para encher meia dúzia de sacos. A natureza agradece, assim como nós, que gostaríamos de enviar um enorme obrigado a todos que marcaram presença no evento!
As minhas fotos podem ser vistas aqui.