Absolutamente fantástico! O Pico Gilbo (GC3X1XV) mantém-se na lista restrita dos locais naturais mais bonitos que conheço. Em viagem por uma Espanha desconhecida e encantada, na direção do Parque Nacional Picos de Europa, já depois de termos passado por Las Medulas, Astorga, León e La Cueva de Valporquero, em boa hora nos decidimos a passar por Los Horcados com a intenção de alcançar o Pico Gilbo. Numa manhã se expectativas insuspeitas, estacionámos na pacata aldeia e logo dois canídeos vieram saber das nossas intenções. Pouco depois perderam o interesse e foram à sua vida. Após garantirmos que tínhamos tudo o que precisaríamos para a investida, seguimos pelo meio da aldeia e iniciámos a subida.
As primeiras centenas de metros fizeram-se sem dificuldades, entre a sombra acolhedora do arvoredo que guiava o nosso caminho. Ao chegarmos aos prados, encontrámos então as vacas, que por ali podem usufruir de uma vivência pacata e de boas vistas. Foi por esta altura também que começámos a vislumbrar os lagos de água, com uma tonalidade azul encantada. Em conjunto com o verde arvoredo e com o branco calcário dos gigantes de pedra transformavam aquele cenário em algo absolutamente inefável. Ao longe, o Pico Gilbo lá ia seguindo os nossos passos, curioso das nossas intenções. Poderíamos nós, meros humanos, chegar onde voam as águias? Era impossível tirar os olhos lá de cima e não perguntar como haveríamos de o alcançar. De longe parecia que apenas por escalada seria possível.
Ao chegarmos a uma vedação seguimos pela esquerda e tivemos as primeiras dificuldades. O tojo ia acariciando as nossas pernas com alguns riscos; ossos do ofício da aventura. Na vinda, porém, optámos por escapar a esta parte e seguimos um pouco mais pelo percurso que lá existe, subindo depois pelo prado. Esta parte também foi um pouco massacrante para a Valente, que ainda assim fez jus ao nome. Ou então não se queixou muito. Contudo, ao chegar perto da base do gigante, e sobretudo ao encarar o que teria de subir, num fôlego, alguns 200 metros em altitude, acabou por optar em ficar ali a descansar. De facto, se não fosse a subida muito íngreme a travá-la, talvez as vertigens mais acima o fizessem.
Larguei-me depois monte acima e cheguei perto do cume. Assim pensava. Foi então que algo de mágico aconteceu. Para resumir, direi que o impacto visual foi de tal ordem que pareceu que tinha chegado ao céu. Ou, pelo menos, ao meu céu. Inesperadamente, encontrei um cenário entre o azul-água no fundo (que contorna o Pico), o verde-vegetação (a meio) e branco-pedra no topo. Há certas experiências que não podem ser descritas por simples palavras; apenas vividas. Esta, ficará para sempre. Percebi também que estava a cerca de 200 metros do pico e notei que o percurso seguia, literalmente, pela crista do cume. De cada lado, largas dezenas de metros de precipício. Ao meio, uma vontade enorme de alcançar o pico. Deixei para trás o meu cajado Viriato e, com todo o cuidado que as circunstâncias exigiam, lá fui avançando com confiança.
Quando dei por mim, tinha chegado ao cume do Pico Gilbo e uma satisfação do tamanho daquele gigante encheu-me o espírito. Gritei então de alegria e, algures pelo meio, o meu grito encontrou o da Valente, lá em baixo. Depois das fotos e de um vídeo 360º, fui registar o momento. No regresso, a passagem pela crista já não meteu tanta impressão e o resto da descida foi feita em modo acelerado, pois tinha de ir a correr contar o que ali vi e vivi à Valente. Se o geocaching é, sobretudo, a descoberta de lugares fantásticos – ou pelo menos deveria ser – este, pelo percurso, pelo desafio, pelo acesso final e mormente pela paisagem é um dos mais fantásticos que eu já descobri à conta deste passatempo fascinante.