Sombras de Silêncio #342

Pela manhã, quando acordou, Girolme encontrou Alberto exatamente na mesma posição. Estiveram ainda algum tempo sem se mexerem, dormitando cada um nas suas tristezas. Despertaram então das memórias. Depois de lavarem a cara e comerem dois pães com manteiga, saíram da hospedaria, deixando depois a cidade e as lembranças para trás. Apanharam a estrada nacional 16 e seguiram em direção a Viseu, serpenteando o Vouga e vencendo as serranias, parando apenas nas termas de São Pedro do Sul, um local de confluência entre o passado e o futuro.

Ao chegarem a Viseu, quiseram contornar a cidade, ignorando a imponência da sua imagem secular. Alberto notou então que um carro da polícia estava estacionado ao lado da estrada e ficou desconfiado. Todavia, decidiu prosseguir; ninguém parava e os polícias estavam dentro no carro. Colou-se a um Renault 4L que seguia à sua frente, mas foi então que os dois homens saíram da viatura. Com uma das mãos ao alto e a outra no coldre, caminharam ao longo da estrada, cada um do seu lado, mandando seguir os carros.

Percebendo as intenções dos polícias, Alberto avisou Girolme para se agarrar e acelerou. Surpreendido, Girolme não se conseguiu suster e caiu desamparado no chão. Um dos guardas, ao ver a mota acelerar na sua direção, sacou da pistola e disparou por três vezes, tentando alvejar na roda. Acabou por acertar em Alberto, que se despistou de seguida. Entre ameaças, gritos e olhares curiosos, Alberto ia agonizando com a dor. Alguns minutos depois chegou ao local uma ambulância que levou Alberto, acompanhado por um dos polícias. O outro polícia prendeu Girolme e levou-o para a esquadra.

Com o incidente no restaurante, as autoridades ficaram de sobreaviso e lançaram uma busca ao homem, acabando por delinear o trajeto de Alberto e conseguir capturá-lo. O homem a quem Alberto batera na casa de banho era juiz do tribunal da Mealhada e estava inclusive até a ser considerado para ingressar na Procuradoria-Geral da República.

Depois de o identificarem, Girolme foi levado para interrogatório. As perguntas sucederam-se durante mais de duas horas. Esclarecidas as circunstâncias da ligação entre os dois, e tendo em conta as informações da pancadaria do restaurante, Girolme foi libertado sem quaisquer medidas punitivas. Quis então saber o que aconteceria ao amigo, tentando ainda elucidar os polícias dos problemas psicológicos que atemorizavam Alberto. Um dos polícias confirmou que ele iria passar algum tempo «a ver nascer o sol aos quadradinhos». Girolme não entendeu a referência geométrica, mas ficou preocupadíssimo com o amigo e perguntou como e aonde o poderia encontrar.

Sombras de Silêncio #342

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