Sombras de Silêncio #86

No dia seguinte, Carlos foi falar com o tenente Figueiredo, mas apenas para lhe comunicar que gostaria de levar Miguel na viagem até Ourém, com passagem por Tomar. O professor não colocou entraves. Já em casa, ao saber da novidade, Joana afligiu-se ainda mais, mas não foi capaz de o verbalizar. Miguel não sabia onde era Ourém e fez uma confusão tremenda com Tomar. Porém, foi lesto em perceber que a viagem significaria não ter aulas durante alguns dias, o que o deixou com tanta alegria e expetativas que se julgou capaz de trepar a uma nuvem.

Partiram a cavalo na manhã do dia 10 de maio em direção a Tomar, com dois pães de trigo e um queijo nos alforges. Miguel colocou-se mais à frente na sela e apesar de o assento lhe provocar algum incómodo, o tempo e a satisfação de tomar as rédeas do cavalo fomentaram-lhe a acomodação. Chegaram à cidade por volta do meio-dia e foram almoçar ao quartel. Passearam depois pelas ruas, margens e jardins do Nabão. Subiram em ziguezague pelo monte e foram visitar o convento. Miguel gostou muito de escutar as histórias dos cavaleiros templários e das suas façanhas, estabelecendo uma comparação com os príncipes das histórias da mãe, que lutavam contra os males do mundo para protegerem as suas princesas. Miguel ficou impressionadíssimo com a beleza do monumento.

– É o convento de Cristo – esclareceu o pai.

Percorreram depois as partes não vedadas, admirando as formas arquitetónicas rebuscadas. Ao passarem na igreja, Miguel viu um homem por detrás do altar, vestido de branco. Reverente, tomando-o por Jesus Cristo, chegou-se a ele e pediu-lhe encarecidamente para que escutasse os pedidos que ouvia a mãe fazer. O padre, que primeiro julgou que o rapaz deveria ter o juízo atrasado, ficou depois preocupado sobre se ele saberia algo do seu passado e mandou-o de volta para o pai, que ficara curioso sobre o assunto que levara o filho a ir falar com clérigo. Porém, Miguel optou por preservar a privacidade da mãe.

Sombras de Silêncio #86

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