Carlos acendeu as lamparinas, levou-a para a cama e correu ao encontro da parteira. Quando voltou, Joana contorcia-se com as dores. A parteira acudiu-lhe e o sargento fechou-se no corredor, por não achar digno acompanhar a esposa naquele momento. Lá dentro multiplicavam-se os gritos de Joana, enquanto o sargento calcorreava com impaciência o pequeno espaço. A calmaria tomou depois o quarto e a porta abriu-se. Joana segurava o recém-nascido envolto por uma toalha ensanguentada. Carlos foi lesto em chegar-se à esposa, desviou a toalha e disse baixinho:
– É um rapaz!
Ela sorriu e apertou a mão dele, enternecida pelo doce momento de felicidade que lhe proporcionara, como se até então fosse apenas o reflexo de uma vida incompleta.
– O seu nome será… Miguel. O que achas? – perguntou-lhe Carlos.
– Sim, Miguel… será um anjo.
Joana tombou a cabeça para trás e ergueu o olhar em direção ao teto, soltando algumas lágrimas. Ainda que a tormenta lhe tivesse atordoado a alma, a felicidade do momento dissimulava as dores. O pai pegou no rapaz e colocou-se à janela, ansioso por mostrar o novo mundo ao seu descendente. Lá fora, as estrelas alinhavam-se no desejo de um pequeno vislumbre da vida recém-nascida, que continuava a chorar.
– Pronto, está tudo bem – tentou acalmá-lo o pai.
– Ai! – gritou Joana, angustiada.
Carlos assustou-se. Voltou-se de supetão e, envolto por alguma escuridão, deixou que a cabeça do filho embatesse num cabide de madeira que andava solto pelo quarto.
– Meu Deus, o que fiz eu? – suspirou em desespero, enquanto fitava a inocência de pele enrugada.
Com um novo grito de Joana, o sargento entregou a criança à parteira e colocou-se ao lado da cama, segurando a mão da esposa.
– Isto é normal? – perguntou o sargento em aflição, enquanto Joana se contorcia com dores.
– Não sei… talvez seja melhor chamar um médico – respondeu a parteira.
– Então vá, mulher de Deus… vá chamar um médico! – gritou Carlos.