Quando os carros já estavam fora da vila, um guarda que fazia uma ronda apercebeu-se do colega inconsciente e deu o alerta. Não demorou muito para que os restantes guardas se apercebessem do que tinha acontecido e fizeram soar a sirene. Após uma contagem à pressa, concluíram que onze reclusos estavam desaparecidos, incluindo Miguel. Aos poucos, começaram a chover telefonemas e os berros interromperam a pacatez do forte.
Logo depois de o guarda Alves ter deixado Miguel na arrecadação, um outro guarda tentou abri-la para ir buscar uma vassoura. Miguel fincou as mãos na maçaneta e não a deixou rodar. O guarda, pouco desconfiado, pensou que ela estaria fechada à chave e verbalizou a sua insatisfação por ter de ir à procura da chave. Miguel aproveitou a oportunidade para escapar e deambulou perdido pelo pavilhão, escondendo-se depois por debaixo de umas escadas. Aguardou demasiado tempo e quando chegou ao sítio combinado já não tinha o guarda à sua espera. Porém, decidiu seguir o percurso estipulado, mesmo sem cuidados. Quando o cunhado do guarda Alves o viu a atravessar a calçada em frente das celas nem queria acreditar no despautério. Ao notar que tinha sido detetado, Miguel ergueu os braços ao ar e fechou os olhos à espera do pior. Quando os voltou a abrir, encarou com o guarda de costas. Deixou-se ficar por mais algum tempo, de braços no ar, sem saber o que fazer e teve de ser o guarda a mandá-lo avançar. Mais tarde, entre familiares próximos, o guarda iria recordar o episódio em forma de anedota.
Miguel prosseguiu a sua desejada fuga. Saltou o muro, atravessou o pátio, chegou à guarita e encontrou os lençóis. Se a perspetiva de liberdade não fosse tão real, Miguel nunca teria encontrado coragem para descer a muralha. Mas o desespero pode levar as pessoas a fazerem ações extraordinárias. Miguel reencontrou a coragem, desceu pelos lençóis e atravessou o fosso. Saltou depois o último muro e desapareceu na vila.