Logo que surgiu a ideia de publicar o livro Sombras de Silêncio através de 365 capítulos durante o ano, comecei a magicar como deveria ser a capa. Escolher uma imagem que espelhasse a essência da história não seria fácil, mas aos poucos consegui definir as caraterísticas essenciais da foto. O contexto envolvente deveria refletir o outono da vida, pelo que escolher a estação do clique tornou-se fácil. Um dos locais naturais mais próximos e mais bonitos que conheço durante o outono é a Mata da Penoita. O chão torna-se num tapete monocromático de um resto vida arbóreo que nos entra em saudade pelos olhos. Num silêncio bucólico, tudo é natureza e encanto primevo.
A água era também um elemento fulcral. Uma reflexão natural entre dois mundos distintos, mas complementares. Um mundo imediato, palpável e real. Outro, entre as sombras, intangível e imaginário. Tão próximos que, por vezes, a linha de separação torna-se impercetível. Sem o dom da ubiquidade, estamos limitados a existir em apenas um destes mundos, ainda que possa ser difícil discernir em qual julgamos estar. Tal como o Cavaleiro da Triste Figura, inspiração tangível desta recriação, podemos passar a vida inteira a lutar contra gigantes e descobrir no final que são apenas moinhos. O motivo principal da imagem seria um pastor, identificado pelo cajado. Num ambiente outonal, as botas descansam das longas caminhadas e o reflexo pertence agora a outro mundo. Pastor de vidas e de sonhos.
Naquele domingo, 6 de novembro, chegados à Mata da Penoita, cirandámos pelo trilho em busca de uma lagoa. Porém, tivemos de voltar ao início para redescobrirmos o que não vimos à primeira passagem. Para obter a imagem pretendia foi necessário tirar duas fotos distintas. Para além da paisagem envolvente, as botas seriam o elemento comum. Apenas uma das imagens teria o personagem. Após algumas tentativas, esmiuçando a paciência da Valente, andando para a frente e para trás descalço, lá acertámos os desejos com a realidade. Através do Photoshop, para além de ligeiras correções, o reflexo do personagem esvoaçou entre as fotos e formou-se a imagem de capa deste projeto.
Após a imagem, os títulos. Inicialmente o design e a fonte eram simples, também para não desviar a atenção. Porém, a Mariana e o Fábio tiveram o bom-senso de dar algumas sugestões, que agradeço. Para além da imagem de capa, duas outras fotos servem de suporte a este projeto. A primeira, criada nas Termas de São Pedro do Sul, revela o relógio Cortébert Speciale, uma das principais “personagens” desta história. O relógio, que continuo a usar diariamente, tem mais de 75 anos e pertenceu ao meu avô Francisco. A segunda imagem foi criada há alguns anos atrás e o motivo principal é o Real Mosteiro de Santa Maria de Maceira Dão, em Vila Garcia, Mangualde, onde cresci. Foi lá que a história começou e é lá que vai terminar!