Sombras de Silêncio #280

Depois de uma busca incessante pelo cais, Girolme começou a ceder ao cansaço. Porém, o frenesim da perda fê-lo reiniciar as buscas. Perdeu a vergonha e começou a fazer perguntas às pessoas que ia encontrando. Mas Bilinho continuava sem dar de si. À medida que o sol ia descontando a sua luz ao dia, ocorreu-lhe por várias vezes que o amigo já poderia ter passado para a outra margem. Ainda assim, Girolme pretendia esgotar todas as possibilidades. Nem mesmo a chegada da noite o fez desistir. O tempo estava ameno e não teria problemas em dormir ao relento. Apenas o assustava que alguém se metesse com ele. Entre a busca infrutífera, Girolme acabou por abdicar temporariamente da busca e acomodou o corpo num canto solitário, ainda no cais. Pela madrugada, entre os uivos desconcertantes da cidade, foi dormitando a perda.

Girolme acordou sobressaltado a meio da noite com um barulho. Esteve ainda algum tempo para perceber onde estava e o que tinha acontecido. Vislumbrou então, entre as sombras da escuridão, um vulto que se afastava. Quis que fosse o amigo. Pareceu-lhe ser o amigo. Levantou-se do marasmo e seguiu a esperança até um cacilheiro adormecido no cais. Notou depois os movimentos sub-reptícios do homem, transportando algo entre os braços, e ficou com mais certezas que deveria tratar-se de Bilinho. Aproximou-se do cacilheiro e chamou-o, primeiro de forma envergonhada e depois com uma alegria inabalável. O burburinho acabou por chamar a atenção de um polícia que por ali fazia vigilância e que acorreu ao lugar. Notando a presença de alguém no cacilheiro, o polícia mandou Girolme permanecer onde estava e começou a levantar a voz e a erguer suspeitas. Entrou depois no barco, já de pistola em riste e conseguiu encurralar a vontade do meliante, trazendo-o pouco depois algemado. Girolme ficou muito dececionado ao perceber que não era Bilinho. Ficou ainda mais quando o polícia também o algemou para averiguações.

Foi uma noite terrível para Girolme. Atrás daquele polícia vieram outros e as perguntas sucederam-se, intercaladas com bastantes ameaças. Girolme pressentiu que iria passar o resto dos seus dias na prisão. Não lhe bastava ter-se perdido do amigo como arriscava a perder-se da própria vida. Os dois foram depois levados para uma esquadra e apenas quando o dia nasceu ficou claro que Girolme não tinha qualquer envolvimento na tentativa de provocar um atentado à bomba no cacilheiro.

Sombras de Silêncio #280

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