Sombras de Silêncio #51

Entraram e seguiram até ao centro da sala, ladeados por seis encapuzados de negro. O iniciante tentava auscultar com o pé calçado o que estaria no seu caminho. O guia acompanhava os seus passos duvidosos, agarrando-o pelo braço esquerdo. No chão estavam dispersas pequenas pedras, nas quais o iniciante acabou por embater. O guia parou depois frente a um altar singelo de granito, fazendo que o iniciante também estancasse a marcha.

– Estenda a sua mão direita e segure esta pedra, símbolo da sua alma profana, repleta de irregularidades – disse um maçon, entregando-lhe uma pedra granítica áspera.

O guia levou depois o pretendente por um caminho sem obstáculos e saíram da sala, entrando de novo no corredor. Seguiram para oriente e chegaram à porta seguinte, onde se manteve o ritual.

– Quem é? – perguntaram.

– Um ímpio deseja entrar e, através do fogo divino, moldar as suas imperfeições.

– Que entre!

A porta abriu-se, exalando um calor abafado que provinha de uma lareira localizada a um canto da sala. Junto à lareira estava um ferreiro que de imediato começou a trabalhar um ferro incandescente, batendo-lhe com um maço sobre uma bigorna, como se estivesse a forjar uma espada. Entraram e dirigiram-se à pequena fornalha. Surgiram então quatro homens encapuzados, empunhando cada um a sua espada e começaram a guerrear entre si. O iniciante assustou-se com o tinir do ferro, mas lá chegou à fornalha. O ferreiro parou então de trabalhar e mandou-o esticar a mão direita.

– Tome este cinzel para desbastar as suas imperfeições.

Saíram depois e voltaram ao corredor, continuando para oriente, indo bater à última porta.

– Quem é? – perguntaram, num tom grave.

– Um ímpio deseja entrar e receber a força da vontade.

– Que entre!

Entraram e seguiram até ao centro da sala, vencendo o espaço sem atribulações. Havia na sala mais quatro encapuzados, colocados nos vértices de um quadrado desenhado por mosaicos. Uma quinta pessoa estava por detrás de um pequeno altar de granito. Vestia uma camisa branca, calças negras e trazia um avental castanho à cintura.

– Deixe a pedra e o cinzel na sua mão esquerda e estenda a direita.

O iniciante obedeceu, sem saber o que lhe iria acontecer.

– Entrego-lhe este malho, para que o use com a força e a determinação moral para polir as arestas da sua alma profana – disse-lhe o maçon.

Sombras de Silêncio #51

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