Ao aperceber-se que a sua missão deveria ter sido descoberta, o condutor do Peugeot optou por tentar escapulir-se ao incidente internacional, fazendo descair o chapéu de forma a tapar-lhe a cara e acelerou ainda mais. A seu lado estava sentado o general Delgado, com uma peruca loira acomodada à cabeça, o bigode postiço e um olhar que afugentava o medo. No banco de trás, amedrontada, a secretária do general deitou-se ao longo do banco, rezando a Nossa Senhora da Aparecida para que desviasse as balas da luta que o seu patrão mantinha contra o Estado Português.
O Peugeot ganhou algum avanço. Paquito empunhou a arma, apontou-a ao automóvel e foi bradando ameaças. Como os portugueses ganhavam cada vez mais vantagem, o guarda acabou por disparar contra o carro, criando alguns buracos na chapa, partindo o farolim do lado direito e estilhaçando a calmaria da planície. Uma das balas acabou mesmo por passar tangente à secretária, na anca, e foi acertar no punho que se erguia da caixa de velocidades, alojando-se aos pés do general. A mulher gritou então de forma desesperada com as dores e começou a sangrar, pelo que o general voltou-se e segurou-lhe as mãos, tentando inteirar-se da situação. Mais atrás, na ânsia de recuperar a distância criada e alcançar os fugitivos, Pablo, ao curvar, acabou por sair da estrada e perdeu o controlo do carro, invadindo um campo de batatas. A saída foi fatal para o Citroën. Embora enraivecidos, os seus ocupantes não ficaram feridos.
Quando o condutor do Peugeot se apercebeu que os perseguidores tinham ficado para trás, levantou o pé do acelerador e tentou inteirar-se do que acontecera à secretária do general. A ferida era superficial. Porém, as dores e o sangue espalhavam-se entre as lágrimas e os gemidos. Por alguns instantes, o condutor pensou em abortar o plano inicial e não comparecer ao encontro. Pelo que sabia, os companheiros já poderiam estar presos ou mortos. O general olhou-o então com desconfiança e desprendeu a atenção da secretária, perguntando-lhe se sabia o que estava a acontecer, mas o condutor negou.