Solidão geresiana

O mundo é um recreio de aventuras. Assim, esquecidos do tempo, vamos rememorando a criancice perdida. Caminhar pela Serra do Gerês é como inverter a marcha inexorável da vida. Parece que estamos a redefinir quem fomos, regressando a uma existência primeva. Ao longe, o mundo pode continuar a girar apressadamente para a modernidade; aqui, a natureza espraia-se calmamente num bucolismo selvagem e inspirador. Sai-se de casa com um rebuliço na alma e chega-se à Portela de Leonte com uma impaciência latente. Deixam-se as rotinas do dia-a-dia no carro e sobe-se pelo caminho romano em direção ao Prado do Vidoal como se estivéssemos a desembrulhar um presente. Ao longe, o Pé de Cabril parece controlar os nossos passos. O prado é uma portagem geresiana; a partir daí entra-se na serra propriamente dita. Cumprimenta-se o Borrageiro e desce-se ao Prado do Conho. Ao longe, a Messe terá de ficar para outro dia. O objetivo é chegar a este promontório inefável. Para isso é necessário descer e subir um vale íngreme e agreste. Por vezes parece que o peso da mochila nos puxa para trás, mas a motivação leva-nos para a frente. Ali, com o vale do Rio Touça, as Fichinhas, as Sombrosas e as Velas Brancas a entrarem-nos pelos olhos da memória, sentimos que somos um capitão à proa de um navio de sonhos em busca de uma aventura. E assim, entre a solidão geresiana, fomos felizes!
14-04-2013

Solidão geresiana

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