O que fazer às caches menos boas?

Pena Amarela

É desafiante e interessante escrever um artigo pessoal sobre geocaching. E, antes de avançar mais, gostaria apenas de salientar que não tenho qualquer intenção de ser ou parecer um ideólogo do passatempo. É apenas uma opinião.

Classificar a qualidade de uma cache pode ser bastante relativo. Os gostos são naturalmente distintos e subjetivos. Também, enquanto alguns praticam geocaching por critérios pessoais de qualidade, para outros nem todas as caches do mundo seriam suficientes, 161 metros de cada vez. Convém então começar por definir o que entendo por ser uma boa cache. Em primeiro lugar, deve estar de acordo com as guidelines; existirá sempre uma razão para a sua existência e a sua validade não se pode esgotar numa opinião divergente ou injustiça aparente. Em segundo lugar, parece-me que uma boa cache deve mostrar algo que seja interessante (paisagem, história, estória, arquitetura, etc); o mote para visitar um local ou percurso deve estar para lá do geocaching. Em terceiro lugar, prefiro que exista apenas uma cache para me mostrar um local ou um percurso. Por último, “a simplicidade é o último grau da sofisticação”. Depois disto, se as pistas ou recipientes forem adequados, elaborados e dedicados será fantástico!

Passando por cima das estatísticas, a larga maioria concordará que existem demasiadas caches menos boas. Para não ferir suscetibilidades, sobretudo naqueles que pensam que as caches são como a publicidade (não existe má), vou referir-me a estas caches como as menos boas. Tal não invalida que também existam caches mesmo más. Mas por enquanto a análise ficará pelas menos boas.

Serra da EstrelaTodos os momentos de criação são pródigos em expetativas. Se for a primeira cache, após um desbravar de dúvidas segue-se a curiosidade de conhecer a reação dos visitantes. Depois, a cada nova cache, tenta-se colocar sempre mais um pouco de nós na experiência. Motivados, a nossa intenção é sempre a melhor e acreditamos que o mundo precisa mesmo de conhecer aquilo que estamos a tentar divulgar. A verdade é que tal nem sempre acontece e daí podem surgir as caches menos boas. Um dos problemas é que tal é diretamente proporcional à evolução do passatempo, também pela ocupação dos melhores locais. A primeira perceção que temos, enquanto donos, dessa realidade chega normalmente na forma de registos generalistas ou minimalistas. Noutros casos, os registos podem mesmo ser impróprios e/ou dececionantes. Perguntamo-nos como é que os outros não conseguem vislumbrar a importância daquela cache e descoberta. O desinteresse espreita a cada registo e quando damos conta já nem abrimos os emails; as estórias vão diretas para o caixote do lixo. Somente os pedidos de manutenção ou arquivamento nos despertam a atenção. Mas apenas por algum tempo. Em breve a cache estará entregue a si própria, à espera que a boa vontade da comunidade ou que algum revisor lhe decida o destino.

De soslaio, sem que alguém desconfiasse ao que vinham, estas caches foram-se acomodando, até que acabaram por conquistar os mapas. Na sua génese podem existir diversos motivos. Algumas são facilmente identificadas pelo nome; o batismo cunha-lhes a existência suspeita: “A cache da minha rua”. Noutros casos, a listagem levanta desconfianças: “Viemos fazer a cache X, trazíamos um tupperware com os croquetes e achámos por bem deixar mais uma cache pelo caminho”. Algumas caches menos boas podem representar mesmo um desafio de perspicácia intelectual, mormente ao tentarmos perceber como é que o nome, a listagem, o recipiente e o local, tão díspares quão estranhos, se conseguiram juntar numa cache. Existe ainda a ideia (desvirtuada) de que a forma mais apelativa para promover um local ou percurso passa por aumentar o número de caches, como se os quilómetros e o tempo dispensado na procura pudessem apenas ser compensados por um salto estatístico. Parece-me que, mais cedo ou mais tarde, todos acabaremos por perceber que, nestes casos, apenas as estatísticas evoluem; nós ficamos na mesma, à espera que o desinteresse se instale.

Por diversas razões, muitos geocachers optaram e/ou optam por colocar poucas caches. Outros nem sequer se reveem no papel de criadores, quer seja para evitar trabalho, indisponibilidade ou por desinteresse. Poucos acertaram ou acertam em todas as colocações. Inevitavelmente, tanto pela vontade precipitada de quem começa como pela acumulação de más ideias ou hábitos, todos podemos colocar caches menos boas. Levanta-se então a questão: o que fazer a estas caches? No nosso caso, pensando nas nossas caches menos boas, chegámos à conclusão que o melhor seria arquivar quando surgisse o momento oportuno e evitar repetir os erros. Contudo, pode ser relativo definir a oportunidade do momento para arquivar. Meramente como um exemplo despretensioso, algumas das primeiras caches que colocámos foi ao longo do rio Teixeira. Na altura, em 2010, os powertrails começavam a surgir mais em força e achámos que tal seria apropriado. Ao todo, acabámos por colocar cinco caches, desde a Ponte de Arões até à Quinta de S. Francisco, num percurso apenas acessível em modo pedestre, rio acima. Dada a sua localização afastada e as poucas visitas, os recipientes aguentaram-se sem problemas. Porém, no verão passado surgiu a necessidade de fazer manutenção. Tendo em conta a definição de qualidade que fomos apurando, durante a manutenção, recolhemos os recipientes restantes, assim como algum lixo, e optámos por deixar apenas uma cache, precisamente a meio do percurso. Foi o momento oportuno!

Ainda que possa existir algum lamento pelo arquivamento de uma cache, mesmo sendo menos boa, parece-me que o tempo acabará por validar a decisão. Acredito que a existência de menos caches acaba também por apurar os geocachers que as visitam e os registos tornam-se mais interessantes. As boas caches e o geocaching agradecem!

Artigo publicado na GeoMagazine #13.

vale


 

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