Por certo será relativo elaborar uma lista de filmes preferidos. As dúvidas não se prendem com os que são eleitos, mas sim com todos aqueles que ficam de fora. Ainda assim, valerá a pena tentar. Para lá das preferências absolutas, a minha lista de preferências está também organizada por alguns géneros.
1. Os Condenados de Shawshank (1994)
“Hope is a good thing, maybe the best of things, and no good thing ever dies.”
Não é por acaso que “Os Condenados de Shawshank” aparece em primeiro. É oficialmente o meu filme preferido e o que vi mais vezes. Não ganhou o desejado Óscar, mas a obra prima de Frank Darabont tornou-se numa das mais aclamadas e unânimes do cinema. A estória gira em torno de um banqueiro bem-sucedido, Andy Dufresne (Tim Robbins), que é condenado a prisão perpétua pelo assassinato da mulher e do amante. Na prisão, Andy encontra Red (Morgan Freeman), que é o narrador da estória, e os dois constroem uma cumplicidade que extravasa as paredes da prisão. Tendo por base um conto de Stephen King, o filme é guiado pela esperança. No final, é a própria humanidade que rasteja pela sarjeta para reinventar um mundo melhor. E algo em nós rejubila pela vitória contra a tirania.
2. O Silêncio dos Inocentes (1991)
“You still wake up sometimes, don’t you? You wake up in the dark and hear the screaming of the lambs.”
Com duas das representações mais marcantes da história do cinema, “O Silêncio dos Inocentes” tornou-se também num filme de culto. O papel de Hannibal Letter (Anthony Hopkins) foi tão relevante que se tornou indissociável de palavras como “psicopata” ou “canibal”. Mesmo passando a maior parte do tempo atrás de um vidro, a sua presença é capaz de nos encontrar até nos sonhos mais distantes e insuspeitos. O filme, realizado por Jonathan Demme e baseado num livro de Thomas Harris, acompanha a estória da jovem agente do FBI, Clarice Starling (Jodie Foster), que é enviada ao presídio onde está encarcerado Hannibal à procura de informações que conduzam à captura de um assassino em série. Porém, os dois acabam por criar uma estranha cumplicidade que perdurou.
3. Forrest Gump (1994)
“Life is like a box of chocolates. You never know what you’re gonna get.”
Para completar este pódio cinematográfico, uma reinvenção quixotesca ao estilo americano. Creio que é muito fácil gostar do filme, realizado por Robert Zemeckis e baseado num livro de Winston Groom. Na América profunda, Forrest (Tom Hanks) é apresentado como um rapaz que revela um suposto défice cognitivo, compensando com um coração do tamanho da estória e com uma capacidade inexcedível para correr. Em busca do seu grande amor, Forrest acaba por participar e influenciar de forma inocente alguns dos acontecimentos mais marcantes do século XX americano. E não só, acabou também por nos influenciar a todos.
4. A Origem (2010)
“Dreams feel real while we’re in them. It’s only when we wake up that we realize something was actually strange.”
O mundo da ficção científica pode ser um campo minado de críticas gratuitas. Não é fácil criar mundos novos quando a nossa imaginação ainda está presa neste. Porém, Christopher Nolan parece conseguir fazê-lo de forma genial. Num elenco liderado por Leonardo DiCaprio, “A origem” conta uma estória que deambula por entre o sonho e a realidade. O que será mais tentador, ser feliz numa fantasia estéril ou penar por uma vida atroz? No dealbar no séc. XXI, com a tecnologia a reinventar a vida a cada dia, talvez o filme ganhe contornos de realidade mais cedo do que se poderia supor. Christopher Nolan é um dos nomes incontornáveis do cinema atual e é o meu realizador preferido. Mesmo com filmes de orçamentos mais reduzidos (ver “Memento”, por exemplo), Nolan consegue transformar estórias (muito bem escritas) em autênticas obras de arte.
5. O Senhor dos Anéis (2001-2003)
“The world is changed. I feel it in the water. I feel it in the earth. I smell it in the air. Much that once was is lost, for none now live who remember it. It began with the forging of the Great Rings.”
“O Senhor dos Anéis” talvez seja a adaptação cinematográfica mais complexa e arriscada da história do cinema. Durante décadas, muitos realizadores foram tentados pelo projeto, mas acabaram por resistir ao apelo do anel. Foi um insuspeito Peter Jackson quem pegou na acarinhada obra de Tolkien e a transformou num marco incontornável da sétima arte. Como a estória foi escrita e realizada como sendo apenas uma (e nenhum dos três filmes/partes poderia existir apenas por si), nesta contagem considero os três como sendo somente um. Ao longo da epopeia de Frodo (Elijah Wood) para destruir o anel, somos levados para a magia da Terra Média e apetece ficar por lá indefinidamente. Existem inúmeras personagens emblemáticas, tais como Gandalf (Ian McKellen) ou Saruman (Christopher Lee). Apesar de se passar num mundo imaginado, a estória encerra uma complexa metáfora da realidade. Definitivamente, é muito mais do que uma estória para crianças; é para toda a humanidade e o seu legado certamente perdurará.
6. Tudo Bons Rapazes (1990)
“For as long as I can remember I always wanted to be a gangster.”
Depois de “O Padrinho”, o legado dos filmes sobre gangsters talvez seja dos mais difíceis de enfrentar. Porém, tal não terá preocupado de sobremaneira Martin Scorcese. Baseado numa história verídica, “Goodfellas” acompanha a ascensão de um grupo de mafiosos, entre eles Conway (Robert DeNiro), Hill (Ray Liotta) e Tommy (Joe Pesci), numa Nova Iorque à espera de ser tomada. Com um elenco de atores que nasceram para desempenhar aquele papel, algumas das cenas poderiam filmar-se a si próprias. “Tudo bons rapazes” é o meu filme preferido do género e seria imperdoável não referir este realizador, talvez um dos mais constantes, completos e dotados da história do cinema.
7. The Shining (1980)
“All work and no play makes Jack a dull boy”
“The Shining” tem das melhores sequências da história do cinema. Cada cena poderia ser analisada ao pormenor e poder-se-iam perder horas a discutir o significado dos elementos decorativos. Stanley Kubrick, o realizador, era reconhecidamente meticuloso e nada surgia/acontecia por acaso. O nível de exigência era mesmo um pesadelo para os atores. É difícil construir boas estórias de terror, devido talvez à fina linha de verosimilhança entre a realidade e a ficção. Provocar o medo real também não é fácil. A questão não estará em provocar o susto momentâneo, mas sim em moldar o subconsciente do espetador ao ponto de o levar a questionar a realidade ou a gravar imagens intemporais e perturbadoras, como por exemplo a cena em que Danny (Danny Torrance), ao andar de bicicleta, encontra as gémeas. Na estória, Jack Torrence (Jack Nicholson) leva a família para habitarem e cuidarem de um hotel isolado durante o inverno, mas acabarão por descobrir que o espaço não é propriamente de um conto de fadas. Esta é a segunda estória criada por Stephen King nesta lista.
8. Apocalypse Now (1979)
“I love the smell of napalm in the morning.”
“Apocalypse Now” talvez seja o meu filme preferido dentro do género bélico. A escolha não é fácil, mas nesta lista não poderia deixar de fora o realizador Francis Ford Coppola. Baseado na mítica obra de Joseph Conrad, “O coração das Trevas”, em plena guerra do Vietnam, a estória relata a viagem do capitão Willard (Martin Sheen), que tem como missão terminar com o comando do insano general Kurtz (Marlon Brando), refugiado nas profundezas mais negras da humanidade. Para além dos episódios caricatos, o filme transporta o espetador para cenários de desolação humana, que, tal como a guerra, estão despidos de sentido ou de razão.
9. A Mulher que Viveu Duas Vezes (1958)
“Only one is a wanderer; two together are always going somewhere.”
O senhor cinema, Alfred Hitchcock. A escolha poderia recair noutro filme do mestre do suspense, mas preferência seguiu a vertigem deste. Não sei se o realizador autorizou a tradução do título para português, mas talvez não tivesse gostado do spoiler desnecessário. Este filme acompanha a estória de Scottie (James Stewart), um detetive contratado para investigar a vida da esposa de um amigo. À medida que os contornos se vão tornando mais obsessivos, vamos descobrindo que nem tudo é o que parece. Um dos aspetos mais fascinante dos filmes de Hitchcock, para além dos diálogos brilhantemente bem escritos, reside nas surpreendentes reviravoltas das estórias. Os segredos eram preservados como um tesouro e revelados apenas no momento certo.
10. Doze Homens em Fúria (1957)
“It’s always difficult to keep personal prejudice out of a thing like this. And wherever you run into it, prejudice always obscures the truth.”
Num mundo cinematográfico cada vez mais voltado para as grandes produções e para os efeitos especiais, ver “Doze Homens em Fúria” encerra a certeza que ao bom cinema apenas bastam um bom realizador, bons atores e uma boa estória. O filme, realizado por Sidney Lumet, decorre quase por completo e em tempo real numa simples sala, anexa a um tribunal, onde doze homens formam um júri e têm de chegar a acordo sobre a culpabilidade ou inocência de um outro homem que está a ser julgado. Após uma primeira votação quase unânime, o jurado interpretado por Henry Fonda vai expondo as suas dúvidas, enquanto o júri redescobre a estória do assassinato e o espetador fica preso à evolução dos acontecimentos.
Para além dos filmes referidos, muitos outros poderiam ser incluídos nesta lista. Não poderia terminar este artigo sem atribuir outras tantas menções honrosas a: “Salteadores da Arca Perdida“, “Matrix“, “Psico“, “O Bom, o Mau e o Vilão“, “O Cavaleiro das Trevas“, “O Padrinho“, “7 Pecados Mortais“, “O Império Contra Ataca“, “Casablanca” e “A viagem de Chihiro“.