Contornaram depois a capela e desceram pela escadaria até chegarem ao mosteiro, sempre com os canídeos em sentido. Mariana e dona Maria, vestidas com capuchas de burel, interromperam a sementeira para o ajudar a devolver as ovelhas ao curral e para a posterior recolha do leite. Luís tratou logo de apresentar Girolme como o novo pastor, caso o pai concordasse. Ambas ficaram apreensivas, trocando olhares entre si e com Luís. Na verdade, elas não gostaram do nome do desconhecido e da sua idade. Mais tarde, depois do jantar, iriam salientá-lo. Todavia, a decisão sobre a sua permanência prevaleceria, com o Joaquim a afiançar que seria muito bom para a quinta contar com alguém para ajudar. Relativamente ao nome, julgaram por bem apenas chamar-lhe Miguel. Alguns dias depois e à medida que o conhecia melhor, Joaquim acabaria por lhe atribuir a alcunha Risadas.
Luís e Girolme passaram depois a ponte do ribeiro. Num tom professoral, Luís colocou-se à entrada das cancelas que criavam um corredor cada vez mais estreito até ao curral, um casebre quadrado com dois pisos e cujo rés-do-chão servia para albergar as ovelhas, enquanto o piso cimeiro estava ocupado por alfaias agrícolas e o resto da palha que sobrara do inverno. Os dois cães andavam aflitos, latindo e correndo de um lado para o outro, incentivados pelos assobios constantes de Luís.
Quando por fim todas as ovelhas entraram, as mulheres chegaram-se à frente com os seus cântaros para recolher o leite. Luís interpôs-se no trabalho delas e insistiu que Girolme participasse na ordenha. Ele fê-lo com toda a vontade, recordando os movimentos tácteis do passado. Rapidamente descobriu que desde então as mãos já não reagiam da mesma forma: a artrite começava a fazer-se notar e ambos os dedos polegares já não apresentavam o mesmo vigor, ficando cansados e doridos. As ovelhas também se mostraram bastante impacientes com o novo ordenhador. Para que Girolme conseguisse terminar o serviço foi necessário que Luís as segurasse e ameaçasse.
