A conversa acabou por resvalar para dúvida, suscitada por Asdrúbal, sobre a verdadeira razão pela qual Girolme tinha vindo com Alberto. Por momentos, Girolme ficou sem saber o que dizer. Contudo, reconheceu que de nada adiantaria estar a elaborar uma mentira e acabou por dizer que fora o pai, há muitos anos, que lhe falara num mosteiro que ali havia e ele sempre o quis conhecer. Apesar de não arriscar dizer o que fosse sobre a cantiga, sentia-se confiante para esquecer os embustes.
– Um mosteiro? – perguntou Manel – Mas que é isso? Um mosteiro, mosteirão?
– Foi o que ele disse – ressalvou Girolme.
– E isso já foi há quantos anos? Olhe que, realmente, eu nunca ouvi falar disso. Ou até… agora me lembra… uma vez veio aí um doutor que tinha um nome assim. Era… Mostei… aí não, afinal era Monteiro – divagou Asdrúbal.
– Eu acho que o senhor Alberto disse que ficava no fundo da terra – sugeriu Girolme.
– No fundo?! Será que está a falar do convento? – perguntou Asdrúbal.
– Sim, é isso – reconheceu Girolme, sorrindo. – Ele também disse esse nome.
– O convento tem muito para ver! Aquilo é uma maravilha. Já ‘tá é um bocado ao abandono – disse Asdrúbal, num tom professoral.
– Eu posso lá ir mostrá-lo – adiantou-se Manel.
Girolme ficou muito agradado com a oferta. Parecia-lhe que aquela família era verdadeiramente simpática e prestável, sendo que não era usual encontrar tal combinação.
– E quem vai escanar o milho? – perguntou o pai. – Vais lá, mas é p’ra voltares logo depois, que temos muito que fazer. Sabe, eu tenho lá p’ra baixo umas belgas com milho e ‘tá na altura de o escanar. Atão e depois, p’ra donde é que vossemecê vai? Nom é que queira saber da sua vida, mas como veio de tão longe p’ra ver o convento.
Girolme não sabia responder e deixou-se ficar num silêncio sorridente.
– Atão… mas vai andar aí aos cambados? – voltou a perguntar Asdrúbal.
– Pois, nã sei – respondeu Girolme.
– O que é que vossemecê fazia dantes? – inquiriu o homem.
– Eu era portero.