Girolme levantou-se e saiu sorrateiramente do restaurante. Parou apenas junto da mota, aonde chegou Alberto pouco tempo depois, a coxear. Os dois arrancaram de supetão, enquanto alguns homens lhes atiravam com pedras. Andaram cerca de um quilómetro na estrada principal e Alberto resolveu irromper por um caminho de terra, antevendo uma perseguição que o poderia apanhar em desvantagem. Seguiram depois durante cerca de quinze minutos para o interior, continuando então para norte por vias secundárias.
Durante a viagem, em cada paragem, Alberto relembrava o episódio do restaurante, alternando de humor de forma imprevisível: congratula-se por ter conseguido sair de lá sem pagar a conta, mas queixava-se das dores e definhava em condenações; gabava-se da forma como se livrara da pancada, mas empedernia ao notar que a violência parecia segui-lo para qualquer lado; num instante largava gargalhadas e achava que merecia um louvor, mas no seguinte tinha de limpar as lágrimas de desgosto que lhe corriam pela cara.
Girolme ia ouvindo e anuindo com sorrisos nervosos. Estava profundamente arrependido pela decisão de o acompanhar. Por várias vezes pensou em fugir, mas de cada vez chegou à conclusão que ficaria apenas a meio de nada. Deixara para trás a hipótese de reencontrar Ritinha para esclarecer a canção que o pai lhe ensinara, mas arriscava-se a encontrar apenas mais violência. Temeu inclusive ser novamente aprisionado e passar o resto da sua vida entre quatro paredes de solidão.