Sombras de Silêncio #332

Todos ficaram à espera da resposta de Alberto, que acabou por garantir que o levaria. Indicou-lhe inclusive que sabia de uma oficina que ficava à entrada da vila. Girolme prontificou-se a ir lá de imediato, mas o grupo não o deixou arredar pé sem se despedir. Pedro deixou-lhe um obrigado especial pelo silêncio despretensioso. Girolme respondeu que ele tinha feito mais por si ao libertá-lo do homem colorido. O grupo dispersou-se depois e os dois permaneceram no meio do santuário. Alberto, para diminuir o tempo de espera, disse então que iria de mota à oficina buscar o capacete, no caso de Girolme lhe confiar o dinheiro. Girolme anuiu, com um sorriso de compromisso. Foram depois até ao local onde estava a mota e Girolme entregou-lhe o dinheiro. Por fim, Alberto disse-lhe para esperar por ele. Girolme assim fez. Sentou-se no chão e esperou pelo seu regresso sem qualquer tipo de desconfiança que ele poderia desaparecer. Pensou depois nas dificuldades que tinha tido ao chegar a Lisboa, no redescobrimento da vida citadina, com todos os seus meandros e especificações. Desejou então que em Maceira Dão não fosse tão complicado; caminhava inexoravelmente para a velhice e cada vez lhe custava mais a aprendizagem: os ouvidos já não escutavam como outrora; a voz enrodilhava-se com maior facilidade e mesmo o raciocínio parecia estar mais lento, como que querendo contrariar a evolução tecnológica em que a vida rodopiava.

Perdido em considerações, Girolme ouviu depois um homem de uma barraca improvisada próxima a promover a venda de garrafas de plástico com água santificada. Segundo o anúncio, a água seria patrocinada por Nossa Senhora e faria muito bem a um rol de maleitas. Alguns interessados acercaram-se então da barraca. Girolme levantou-se de pronto, passou a mão pelo bolso e arrebanhou todas as moedas que lá estavam. Seguiu depois para a barraca e colocou-se na fila. Naquele momento passou um padre junto da barraca e o vendedor interrompeu as especificações, retornando a cantilena logo depois de o padre desaparecer na multidão. A receber a garrafa, Girolme ficou bastante satisfeito por levar consigo algo de Fátima. Considerou então por bem que apenas beberia a água santa em situações mais complicadas e de resolução estritamente divinal.

Sombras de Silêncio #332

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