Sombras de Silêncio #330

Todos no grupo começaram a rir e a trocar comentários entre si, até que Alberto lhe explicou, num tom professoral, que era por terem cinco mudanças. Ainda que Girolme não compreendesse que as mudanças relatadas por Alberto se referiam às velocidades e não à aparência, considerou que tinha sido uma boa explicação.

Depois do pequeno-almoço, os homens foram para o local combinado e habitual à procura dos familiares que haveriam de chegar de automóvel para os levar. Lá esperaram, à sombra dos carvalhos veneráveis e seculares, enquanto os reencontros aconteciam ao som das perguntas sobre como tinha corrido a viagem. Girolme esperava a chegada da esposa de Pedro com alguma curiosidade. Quando ela chegou, toda a curiosidade desapareceu sob a mentira a que ele se tinha comprometido. Girolme sentiu-se infeliz e até culpado pela situação, pelo que decidiu reforçar a sua penitência durante a missa da manhã. A esposa de Pedro parecia ser bastante crente e devota do matrimónio que ambos tinham estabelecido, rodeando o marido com palavras carinhosas. Pedro respondia com algum afastamento, por considerar que aquele não era sítio para extravasar sentimentos que pudessem transparecer qualquer promiscuidade.

Enquanto seguiam para a missa, Girolme afastou-se um pouco deles, observando a mentira em que ambos viviam. Girolme tinha outra questão a martirizar o seu pensamento e para a qual sabia que dificilmente iria obter uma resposta satisfatória; qualquer que fosse a decisão, estaria sujeita ao arrependimento. As palavras de Alberto, sobre a necessidade de as pessoas não remexerem no passado, continuavam a querer decidir por ele, como se fossem um caudilho que não se pode contrariar. Contudo, outras vontades, mais antigas, empurravam-no para um reencontro há muito tempo esperado. Girolme caminhava, indeciso, entre quatro filas de solidão. Pensou ainda no que faria depois de rever a sua princesa e ficou com um vazio maior do que uma noite sem sonhos.

Sombras de Silêncio #330

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