– Ora aí é que está! – exclamou Pedro. – Há muitos que chegam aqui à procura de encontrar a sua vida resolvida num passo de magia. Isso a mim parece-me um abuso. Nós não podemos exigir que Deus viva por nós e que fique com tudo aquilo que nós não queremos. A bíblia não diz isso; diz-nos sim que devemos seguir o Senhor e ele responderá a todas as nossas preces. Mas muitas vezes, só porque não é evidente, deixamo-nos levar por outros caminhos e pensamos que todos nos abandonaram. Vossemecê, que ontem estava meio desorientado, agora já sabe para onde tem de ir. A mim parece-me uma boa ajuda da santa! E agora pergunto: afinal não é isso que é importante? Não podemos estar à espera que Ela se digne presentear-nos com uma aparição e que resolva tudo, da noite para o dia. Afinal o que somos nós? Pecadores! Já fomos inocentes, mas a vida é traiçoeira. Não pode ser! Temos de escutar com o coração e saber que não estamos sós. Ninguém está só!
– Podemos viver com muita gente, mas morreremos sozinhos – disse Alberto.
– A mim parece-me que já nem precisamos de ir à missa – comentou Joaquim, que estava ao lado de Pedro.
Seguiram-se alguns comentários de concordância e ainda outros de admiração pelo facto de Pedro não ter enveredado pelo sacerdócio. O próprio assegurou depois que pensava ser melhor que alguns padres, que depois de tirarem as vestes pareciam despir-se de Deus. Girolme não estava tão maravilhado com a oratória do peregrino, pois sabia de alguns pormenores que os outros desconheciam. Girolme pensou então que na vida, mesmo por detrás do mais inocente e prestável indivíduo, poderiam existir segredos que derrotavam qualquer vã aparência. Apesar de Alberto lhe parecer um homem com uma insatisfação pouco saudável com Deus, alicerçada em alguns problemas por resolver, denotava ser uma pessoa verdadeira e sem disfarces.
– Eu tenho uma dúvida – interveio Joaquim. – Como é que se portam essas motoretas, as V5? Estou a pensar em comprar uma para uns passeiozinhos à beira-mar.
– Andam que é uma maravilha! – confirmou Alberto. – Já a tenho há quase dois anos; é só dar ao pedal e meter gasolina. A V5 é de confiança! Compre que é um bom investimento.
– Eu também tenho uma dúvida – disse Girolme. – Por que é que as motas se chamam V5? É porque levam cinco de cada vez?