Sombras de Silêncio #328

– Tomara que sim – quis acreditar Alberto, metendo a mão ao bolso onde guardava o objeto enrolado no pano. – De qualquer maneira, vim para aqui com poucas esperanças e estive para ir embora com nada. Mas aqui o amigo insistiu que eu ficasse por mais algum tempo e pelo menos já sei para onde quero ir.

– E pode saber-se para onde é? – perguntou Pedro.

Girolme continuava agarrado ao que Alberto dissera sobre o passado, tentando perspetivar que reencontro seria possível depois de tantos anos de afastamento. Mesmo que fosse apenas um mero vislumbre, de que adiantaria? Mudaria algo? Escutou então duas palavras que primeiro o surpreenderam pela familiaridade e depois o resgataram para uma dúvida que o acompanhara durante os últimos anos e cuja origem estava numa cela da memória:

– Claro que podem, não é segredo nenhum; é uma terra que fica ali para o Norte, perto de Viseu, chama-se Maceira Dão.

– Como?! – irrompeu Girolme, incrédulo.

– Maceira Dão – repetiu Alberto. – Conhece?

– Eu… conheço… mas já ouvi falar esse nome. Isso é uma terra? O que há lá? Onde fica? É um mosteiro, é? – quis saber Girolme, com uma curiosidade inexcedível.

– Ó homem, você parece um jornalista! Eu acho que pertence ao concelho de Mangualde, mas eu nunca lá fui. É a terra de um amigo que… serviu comigo na Guiné. Não faço ideia se lá há algum… espera lá, acho que sim, lembro-me de ele dizer que lá havia um convento ou um mosteiro. Qualquer coisa.

– E você vai p’ra lá? – voltou a perguntar Girolme.

– Logo que acabe a missa, monto-me na minha V5 e faço-me à estrada – confidenciou Alberto, ao acabar o caldo verde. Quase todos já tinham acabado a refeição, à exceção de Girolme, que continuava a indagar sobre o passado, variando entre a incerteza e a curiosidade.

– Vai ver o seu amigo? – perguntou Marco.

– Vou… lá vê-lo… e dar cumprimentos à família – disse Alberto, com o olhar distante e compenetrado.

Sombras de Silêncio #328

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