Sombras de Silêncio #291

Girolme desconhecia o que era um esquema, pelo que Bernardo teve de elaborar:

– É muito fácil! Tendo em conta que você sabe ler as letras, vai pegar num papel e vai fazer um desenho dos vários pisos do prédio e em cada piso vai anotar o nome das pessoas. Depois, quando for para distribuir as cartas, apenas precisa de confirmar se a primeira letra das cartas corresponde à primeira letra que estiver no esquema. Olhe, eu acho que por acaso até tenho aqui um papel e um lápis – e, dizendo isto, Bernardo tirou do bolso do capote um pequeno bloco de apontamentos, com um lápis preso nas argolas, e fez um esboço do prédio retangular, dividido pelos sete pisos. Ao lado desenhou sete quadrados. – Está a ver, cada quadrado é um piso e agora você só tem de me dizer quais as pessoas que lá vivem. Vamos lá; no rés-do-chão, quantas portas é que há e quais são as pessoas que lá moram?

Apesar de a ideia lhe agradar bastante, Girolme não sabia responder. Sempre tivera alguma dificuldade em decorar os nomes das pessoas. Receava inclusive que, com o avanço da idade, esquecesse o próprio nome. Apesar da limitação, Bernardo insistiu em ajudá-lo. Sugeriu-lhe que apontasse através de pequenos traços verticais quantas portas existiam em cada piso, rogando-lhe para não o fazer na presença de moradores. Despediram-se depois e Girolme regressou a casa, agradabilíssimo com o encontro aparentemente fortuito.

No dia seguinte, logo após o almoço e depois de avistar Bernardo no mesmo banco do jardim, Girolme saiu de casa e levou uma folha já com o número de apartamentos que havia em cada andar. Inclusive, fez questão de desenhar, em cada quadrado, a localização espacial de cada porta. Como ele se lembrava dos nomes de alguns dos inquilinos, transmitiu-os também ao beirão, que os foi apontando numa outra folha e colocou as iniciais de cada nome no esquema. Bernardo voltou a explicar depois como ele deveria proceder para entregar as cartas. Subsistiam algumas dúvidas, mas Girolme teve a ideia de ir buscar algumas cartas que tinham ficado por distribuir. Pareceu-lhe que aprenderia melhor pela prática. Bernardo rogou-lhe apenas para que fosse discreto. Alguns minutos depois, Girolme regressou com quatro cartas e uma encomenda, desviado de olhares curiosos.

Sombras de Silêncio #291

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