A mulher pegou-lhe de imediato, pouco interessada em perder tempo com parvoíces. Havia apenas mais um pormenor a tratar, mas Bilinho cedeu a primazia, incentivando Girolme a fazer uma boa prestação. Enquanto Girolme entrava no casebre, com a mulher a levá-lo pela mão, Bilinho contornou a casa e aproveitou para tentar perceber o que estava a acontecer com o amigo. A mulher conduziu Girolme para um pequeno anexo na parte posterior do casebre e mandou-o sentar-se num banco, enquanto contorcia o corpo. De seguida, ela apoiou as mãos sobre o joelho dele, olhando para o monte de palha que estava ao lado e perguntou-lhe como é que ele se chamava. Girolme estava em pleno estado de ansiedade e nervosismo, como poucas vezes estivera, ansioso por fugir dali. Mas nem foi preciso, pois a mulher encostou a boca ao seu ouvido e disse-lhe que ia lá fora mudar de roupa, mas que voltaria depressa. Logo que se apanhou sem vigia, ela começou a correr. Porém, Girolme, lembrando-se que ela estava a fugir com o dinheiro de Bilinho, gritou:
– Ó Bilinho, agarra a mulher!
Bilinho, que estava atrás casa, encostado a um pinheiro no sentido por onde ela ia a fugir, nem precisou do alarme. À sua passagem acertou-lhe com o guarda-chuva em cheio no pescoço e fê-la tombar, sem sentidos, no chão. Bilinho não perdeu tempo e pôs-se de imediato à procura do dinheiro perdido. Debruçado sobre ela, nem se apercebeu da chegada de um homem corpulento que o pontapeou repetidamente. Entre as dores, lá conseguiu avisar o amigo para fugir dali. Miguel saiu do casebre e foi espreitar, dando com um homem de camisa negra aos pontapés ao seu amigo e ficou sem saber o que fazer. Escondeu-se então no casebre, mas logo concluiu que lá não estava em segurança. Correu depois pela mata em direção ao rio, olhando amiúde para trás e com a convicção indubitável de regressar mais tarde para recuperar o amigo daquele antro de maus costumes e violência. À medida que os passos se tornavam cada vez mais pesados cresceu nele um sentimento de culpa por ter abandonado o amigo. Parou então e decidiu combater o medo que lhe ia carcomendo os sentidos. Num sopro de coragem, quis voltar para trás, mas as pernas tremiam-lhe como duas pernadas de oliveira num dia invernal. Acabou por se sentar e permaneceu assim algum tempo, pedindo a Nossa Senhora que acudisse ao amigo e lhe perdoasse a cobardia.