Sombras de Silêncio #225

– E o que veio fazer aqui? – volveu o homem.

– Eu… nada. Ele trouxe-me p’raqui e disse que o melhor era irmos p’ra Espanha – confirmou Miguel, escondendo o olhar entre as mãos num sorriso nervoso.

– São necessários mais esclarecimentos. Vai esperar aqui o tempo que for preciso até eu ter a certeza – disse o homem, saindo de seguida da sala.

A noite instalou-se e o desânimo alastrou-se entre as sombras. Cerca de uma hora depois, entrou na sala um outro homem e sentou-se à frente de Miguel, colocando uma capa sobre a mesa. Em silêncio, à medida que trocava alguns olhares com o fugitivo, o homem desfolhou a capa à procura de alguma parecença com as muitas fotografias de homens que lá estavam. Terminou cerca de meia hora depois, pegou na capa e saiu pela calada. Pouco depois, voltou a entrar o homem que o tinha interrogado e revelou:

– A sua versão foi confirmada, quer pelo execrável, quer pelas provas que fomos recolhendo. Você teve mais sorte que juízo. A esta hora poderia morto!

– Morto, como assim? – inquiriu Miguel.

– O homem que lhe deu boleia é o autor confesso de vários homicídios.

Miguel não sabia o que era um homicídio e apenas sorriu, também para não prejudicar o amigo.

– Durante o dia, era um professor muito habilitado, com uma vida aparentemente normal. Tinha casa, mulher e dois filhos. Porém, durante noite, transforma-se num terrível assassino. É conhecido como “Sombras” e há muito tempo que o perseguíamos. Sabe, o psicótico julgava que a sua sombra não era dele, como se alguém o estivesse a vigiar. Ele diz que o silêncio da sua sombra tornou-se diferente! Então, a coberto da escuridão, andava à caça de homens que fossem fisicamente parecidos com ele, para lhes tirar a vida e roubar as sombras. Com o passar do tempo, a psicose aumentou e os crimes tornaram-se mais violentos. Começou também a deixar mensagens enigmáticas nos locais dos crimes. Através delas conseguimos identificá-lo e a prisão era eminente. É por isso que ele estava a fugir para Espanha. Você acabou por ter muita sorte! Pode sair em liberdade, mas depois vai ser chamado a depor como testemunha. Diga-me a sua morada – esclareceu o inspetor.

Sombras de Silêncio #225

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