Sombras de Silêncio #65

Na noite a seguir à publicação da Constituição de 1911, Afonso Pala e Carlos seguiram em direção a Oeiras, no automóvel do capitão, e chegaram à casa por volta das nove horas da noite. Afonso levou Carlos até à biblioteca, no segundo piso do edifício, e por lá o deixou, seguindo depois para os seus afazeres.

– Num destes livros encontrarás a resposta. Boa sorte na procura. Daqui a pouco regressarei. Se a tua busca não tiver êxito dar-te-ei a resposta. Deves ter o cuidado de recolocar os livros no local exato de onde os tirares pois caso contrário perde-se o seu rasto. E um livro perdido é um como homem morto!

Carlos ficou estarrecido com a beleza da sala. Os inúmeros livros, cuidadosamente encapados, emolduravam as quatro estantes e tapavam até ao cimo as paredes da sala. No meio estavam dispostas nove mesas e a cada um dos cantos dormitava um candeeiro que iluminava o espaço. Cada uma das mesas possuía também uma vela. Carlos acendeu uma delas e percorreu as quatro estantes, procurando nas capas dos livros um título que fizesse adivinhar a solução do enigma. A busca infrutífera prolongou-se por mais de uma hora, alicerçando a admiração de Carlos pela magnificência do local. Já o sargento tinha desistido da sua busca e deambulava o interesse ao acaso, quando, ao remexer num livro de uma das estantes, foi sobressaltado por um barulho. Cuidadosamente, puxou-o para si e notou que por detrás do livro estava um relógio de bolso. Posou o livro sobre uma das mesas e pegou no relógio. Ao reparar que estava parado, deu-lhe corda, confirmou as horas e acertou-o com a vida. Estranhou então o facto de o ter encontrado ali, como se o objeto tivesse sido escondido. Todavia, pareceu-lhe um relógio comum. Logo depois, notou que alguém se aproximava da biblioteca. Mais por instinto do que por premeditação, Carlos baixou a mão e colocou o relógio no seu bolso. Afonso Pala assomou-se então à porta e ali ficou por breves instantes, como se esperasse uma resposta. Com a voz embargada, como uma criança que tinha feito uma travessura e se escondia do professor, Carlos começou por dizer que tinha ficado impressionado com a biblioteca, mas que fora incapaz de resolver o mistério. Afonso aproximou-se dele e pegou no livro que estava sobre a mesa.

Sombras de Silêncio #65

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