Com a aproximação do mês de agosto, as movimentações de influências sucediam-se freneticamente em torno das eleições para a Câmara dos Deputados, de onde sairia o governo com a bênção d’el-rei. Entre as diversas forças em competição, salientavam-se os grupos, mais do que partidos, políticos organizados pelos governamentais de António Teixeira de Sousa; os conservadores do experiente José Luciano e os republicanos que, apesar de divididos, centravam a sua ação no apoio à agremiação de Afonso Costa e António José de Almeida, entre outros.
A vitória republicana nas eleições autárquicas representava a certeza de que o país poderia afastar-se em democracia da monarquia. No limite, el-rei poderia ser obrigado a abdicar do poder. Por conseguinte, na ação que desenvolveu enquanto soberano da nação, D. Manuel II enveredou pela perspetiva de tornar-se, de facto, rei de todos os portugueses. Abandonou uma posição confortável ao lado dos conservadores e arriscou uma aproximação inesperada aos renovadores, que por sua vez procuravam destituir a monarquia. Baralhados, os republicanos começaram a sentir que poderiam governar por intermédio do rei e amainaram o descontentamento à espera do resultado das eleições marcadas para o dia 28 de agosto de 1910.
Os temas que mais se repetiam nos diversos comícios eram a reforma da lei eleitoral, a expulsão dos jesuítas, a reforma do elitista sistema de ensino e a ingerência da Igreja Católica na política. Na capital, tornou-se arriscado não aderir ao movimento republicano e por conseguinte o tema preferido era maldizer os monárquicos. No resto do país, a discussão dividia-se entre reprovar os governantes de Lisboa pela má gerência e amaldiçoar a ineficácia das autoridades em conseguir reprimir os atrevimentos dos republicanos. Dada a situação política de Lisboa foram criadas ligas de apoio a D. Manuel II e corria o boato de que, a qualquer momento, poderia estalar um movimento violento contra os republicanos.
Das eleições resultou a vitória do bloco liberal de António Teixeira de Sousa, com oitenta e nove deputados eleitos. Os republicanos conseguiram dobrar a fasquia e elegeram catorze deputados, maioritariamente pelo círculo de Lisboa, entre os quais Afonso Costa, Cândido do Reis, Bernardino Machado, Miguel Bombarda, António José de Almeida e Teófilo Braga. Para o partido vencedor formar governo foi forçado a celebrar pactos amigáveis com a oposição. Os deputados republicanos viram assim crescer a sua base de influências.