Sombras de Silêncio #34

O cocheiro fez vibrar as rédeas e a carruagem seguiu lesta para o Arsenal da Marinha, onde el-rei já chegou sem vida e o príncipe real D. Luís exalava o último suspiro. Uma das balas atravessara-lhe a face e saíra pela nuca. O seu irmão apenas recebera um tiro no braço, enquanto a rainha D. Amélia tinha saído ilesa do regicídio. As outras carruagens fugiram do Terreiro do Paço em desespero e os poucos polícias pareciam baratas tontas. Carlos correu até ao Arsenal e reencontrou a família real em desespero. Logo depois, o Dr. Moreira confirmou os óbitos de D. Carlos e D. Luís. Surgiu então João Franco, prostrado em estupefação para o destino. D. Amélia elevou-se e mirou o chefe de governo em desespero.

– Você fê-lo assinar a sua sentença de morte!

João Franco permaneceu imóvel, olhando para o corpo inerte de D. Carlos, e não esboçou qualquer resposta.

– Diziam que o senhor seria o coveiro da monarquia, mas foi o assassino do meu filho e do meu neto! – exaltou-se D. Maria Pia, a rainha-mãe, que viera do Palácio das Necessidades, agachada junto aos corpos moribundos.

Na rua, o burburinho crescia à medida que a notícia se espalhava. Temia-se que uma revolução pudesse surgir a qualquer momento. A cidade parecia rolar indefesa de encontro a um barril de pólvora, enquanto o país esperava, quase indiferente, pelo desfecho.

Carlos saiu do Arsenal e voltou ao Terreiro do Paço. Não sabendo o que fazer, arrepiou depois caminho pela baixa pombalina e seguiu até à casa do amigo José Francisco. Pensava que ele lhe poderia explicar o que acontecera, mas temia as respostas. Ainda antes de chegar à casa encontrou quem procurava, vindo na sua direção.

– Para onde vai? – perguntou o sargento, nervoso e ainda em êxtase pela impotência.

– Ora viva, senhor Carlos, que coincidência encontrá-lo aqui – saudou José.

– Para onde vai? – retorquiu o sargento, com um ar pesado.

– Vou até ao… Terreiro. Ao que parece aconteceu uma tragédia. Mataram el-rei.

– E sabe quem o matou?! – perguntou Carlos, demasiado impaciente e com um arrebatamento febril pelos acontecimentos derradeiros, certo que o amigo estaria envolvido.

Sombras de Silêncio #34

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