Ocasionalmente, Carlos e Joana passavam a tarde de sábado em casa de José Francisco, que se tornara amigo do sargento. Era uma casa onde a opulência sobressaía; nas paredes estavam pendurados quadros de cenas africanas e várias cabeças de animais embalsamados; os sofás de pele contornavam o centro da sala, onde estava disposta uma mesa muito elegante, que ele dizia ter vindo do Japão. Numa dessas vezes estavam lá outros convidados; Alfredo Costa, Manuel Buíça e outros três homens que Carlos desconhecia. À chegada, José convidou Joana a deslocar-se até à sala onde estaria a sua esposa a bordar e desafiou Carlos a sentar-se com eles, oferecendo um copo de Vinho do Porto.
– Suponho que não conhece estes senhores: Domingos, José Nunes e António José de Almeida, meus amigos de longa data – apresentou-os José.
– Muito prazer – disse Carlos, curvando-se ligeiramente.
Todos eles sorriram e José Francisco aproveitou o momento para propor um brinde, erguendo o seu copo de vinho e sendo secundado de imediato por todos. A ação política na Câmara Municipal de Lisboa e alguns amigos em posições relevantes valeram a José Francisco uma vida desafogada de preocupações económicas, o que lhe permitia prover alguns mimos aos seus convidados.
– É impressão minha ou a sua esposa espera uma criança? – perguntou Alfredo, entre duas baforadas do seu charuto.
– É sim. Desculpem interromper a vossa sessão, não sabia que tinha convidados – insistiu Carlos.
– Oh, senhor Carlos, acredite que não existe problema algum; somos todos homens de bem – aquietou-o José.
– Tem estado um calor horrível, não acham? – notou Alfredo.
– Se tem! Deve estar a afetar a cabeça de muita gente. Já viram o que fizeram ao pobre do Jeremias? – disse José.
– Pois foi, enviarem-no para Timor. Aonde é que isto já se viu? – continuou Alfredo.
Carlos tentava descortinar o que tinha acontecido, evitando parecer demasiado curioso.
– Que Deus me perdoe, mas não havia outro em Portugal que defendesse tanto… Sua Majestade. E agora o desterro. Isso não se faz ao mais vil criminoso, quanto mais a esse homem – continuou Alfredo.
– Corre o boato que o cerco vai apertar – disse José Maria.
– E o senhor, o que pensa das medidas de João Franco? – perguntou José Francisco ao sargento.