Os três guardas que tinham levado o rapaz para a esquadra estavam de regresso para tentarem descobrir o paradeiro do agitador misterioso.
– Oh, meu Deus do céu! Só me faltava agora esta. Mas que vida! – exclamou Saraiva, deambulando de um lado para o outro com os braços no ar. – Não te arrelies, que tudo se há de resolver. Ele empurrou-o para salvar Ritinha. Foi pela lei! – retorquiu, de si para si.
– Deixem-se ficar ou eu disparo! – ameaçaram do outro lado.
– Logo tinha de acontecer com um político! Se fosse um zé-ninguém, amanhã já ninguém se lembrava. Mas o que haveremos de fazer? Se o levarem para uma prisão, mais depressa ele morre do que a gente prova que foi em legítima defesa.
Entretanto, Ana deixara a carroça e aproximara-se do borburinho. Ainda não tinha compreendido o que tinha acontecido, mas já estava assustada com os presságios do marido. Entre as perguntas, acabou por recuperar a filha para si num abraço. Do outro lado, um dos guardas manteve-se de sentinela, de pistola apontada, enquanto os outros correram ao longo da ria, passando a ponte e indo ao encontro dos três.
– Mas afinal o que é que se passou aqui? – perguntou um dos guardas, de aspeto atlético, com um bastão numa das mãos e a pistola na outra.
– Não se passou nada, senhor guarda – disse Saraiva.
– Então nada? Deve ser por isso que essa rapariguinha chora? Vamos lá contar tudo e é se não querem ir passar a noite à esquadra! – avisou o guarda, aquando da chegada do colega, mais obeso.
– Mas é a verdade, senhor guarda. O que é que quer que eu lhe diga? – replicou Saraiva.
– Você, nada! Mas aposto que ela tem muito para dizer. Metralha, agarra-a!
Metralha, que era a alcunha do outro guarda, foi ao encontro deles. Contudo, Rui adiantou-se e colocou a irmã atrás de si, de punhos fechados e olhar nervoso.
– Rui, que ‘tás a fazer?! – gritou-lhe o pai, vendo os dois guardas apontarem as pistolas ao filho. – Chega-te já p’ra trás! Meus senhores, peço-vos que tenham calma!
– Ouviste rapaz? Deixa-te de aventuras ou ainda sais daqui em quatro tábuas! Chega-te já p’ra lá – gritou o guarda mais atlético.