Entre as rodas da carroça, e enquanto ouvia os murmúrios da família Caricatus, Miguel ia revisitando os episódios recentes, apreensivo pelo futuro e esperançoso que Ritinha se deixasse convencer pelo seu sentimento singelo e verdadeiro. Ainda que o pai não aprovasse o amor entre ambos, Miguel rebuscou a esperança de a convencer a fugir com ele. Antes de adormecer, Saraiva foi espreitar por debaixo da carroça a fim de se certificar que o rapaz estava sossegado. Miguel, ao senti-lo chegar, fechou os olhos e simulou num respirar mais pesado. Com os sentidos despertos, Miguel indagou sobre como poderia conquistar a sua amada. Ritinha e Rui subiram depois para a carroça e sentaram-se cada um no seu colchão. Miguel estava com a atenção nos píncaros, tentando espreitar pelas frechas da carroça. Porém, cercado pela escuridão, nada conseguiu descortinar. Rui, apelando à sua curiosidade amorosa, tentou estabelecer uma conversa com ele, misturando a vida e a encenação. Miguel acedeu, pela promessa de ficar a conhecer um suposto segredo sobre Ritinha, mas acabou apenas por resvalar para uma brincadeira de ventosidades do irmão. A carroça rangeu com os risos de Rui, enquanto Ritinha ia maldizendo o comportamento infantil do irmão.
Miguel passou desperto pela noite, intercalando a consciência entre o sonho e a realidade, com o corpo maldisposto pela posição pouco ortopédica. Seguiu-se mais um dia de trabalho, à volta do cuidado, limpeza e alimentação dos quatro cavalos. Sempre que podia, Miguel ia despendendo olhares com Ritinha, em particular durante as refeições. Logo que anoiteceu, Miguel foi Estupidus por mais algum tempo, mas optou por não acrescentar dizeres da sua autoria e não arriscou comportamentos suscetíveis de desconfianças desnecessárias. Todavia, aproveitou para trocar reparos tímidos com a princesa Destinus.
Na manhã do terceiro dia arrumaram as trouxas e partiram em direção a Penela, onde assentaram o espetáculo por mais três dias, seguindo para a Lousã e descendo depois para Castanheira de Pera e para Pedrógão Grande. Os cavalos, a quem Miguel associou os elementos como nomes próprios, tornaram-se os seus confidentes, escutando de forma atenta as suas intenções falhadas.