Sombras de Silêncio #172

– Como é que tu te chamas, minha linda princesa? – perguntou Hércules.

– Destinus – respondeu ela, sem levantar o olhar ou a timidez.

– E de que reino és?

– Briganto, meu senhor.

– Por que ‘tás aqui?

– O senhor meu pai, Dom Zéfiro, mandou pôr-me aqui, à espera que um cavaleiro me salve e se torne rei.

– Já vistes rapaz? Que sorte a tua! – comentou Hércules, passando por detrás de Estupidus e dando-lhe uma palmada nas costas.

– Sim… – respondeu o interpelado, sem desviar os olhos da sua princesinha.

A princesa Destinus, atendendo ao que Hércules dissera, levantou então o olhar para Estupidus e notou-lhe um sorriso rasgado, que desfez no instante seguinte:

– É isto o meu príncipe?!

– Posso nom parecer grande coisa – ergueu a voz Miguel, disposto a mostrar-lhe que era enfim o homem certo para ela –, mas tenho um coração grande, como já me têm dito. Muitos chamam-me de tolo, mas as minhas toleiiras não fazem mal a ninguém. Mesmo que me achas direito, prometo gostar de ti até que mudes as ideias.

Quando terminou, Miguel estava a lacrimejar. A eminência da perda fê-lo encontrar coragem e audácia onde ele nunca imaginara que existissem. Ao ver e ouvir os espetadores soltarem palavras e gritos de apoio ao pretendente, Hércules considerou que aquele rapaz, sem tino e amorfo, convertera-se num grito que abalou algumas certezas, sob o aplauso do público.

– Vejo que o catraio já tem pelo na venta! É um problema sério! Mas será que a princesa Destinus está agradada? – interveio Hércules.

Ela, ainda aturdida com a frontalidade do rapaz e receando que as palavras dele despertassem desconfianças, nem sequer pestanejou e, indo ao encontro do pai, garantiu que estava muito mais interessada que Hércules fosse o seu príncipe.

– Como podes ver, Estupidus, temos agora aqui um imbróglio dos antigos! Ora, como é que havemos de desatar este nó? – perguntou Hércules, indo ao encontro dos espetadores, que começaram de imediato a oferecer soluções conforme a sua pândega – Parece-me que uma boa lua-de-mel é capaz de resolver isto, tal como faziam os meus compadres de antigamente, que levavam as donzelas para algum ermo e davam-lhes um remédio de mel durante as quatro fases da lua. No regresso, eram só juras de amor eterno. E quem diria?! – continuou ele, num tom baixo e tirando debaixo das malhas um frasco de vidro com um líquido amarelado. – Tenho aqui um remédio muito próprio p’ra tratar destas coisas? Basta que uma pessoa o beba de olhos fechados e ao abri-los apaixona-se de imediato, e para sempre, pela primeira pessoa que encarar. É remédio santo! Mas a quem a que eu hei de dar esta mistela? Ora deixa cá ver: deverei dá-la àquela coisinha fofa que ali está para se apaixonar por aquele… Estupidus e eu ficarei com aquela… entupida?

Sombras de Silêncio #172

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