Sombras de Silêncio #171

– Não! – ecoou pelo espetáculo, misturado com as gargalhadas.

– Parece um pau de virar tripas! De tão lingrinhas que ele é, mais vale metê-lo já num caixão e rezar pela sua alma. Mais do que ninguém, conheço a cruz que ele terá de carregar quando chegar à torre. É por isso que vos peço, minha princesa e meu bom amigo Enormus, que façamos um atalho no nosso caminho para ajudarmos este pobre e depois serei o rei Cinquenta e Dois do reino Menfo. E nós, minha querida, viveremos felizes p’ra sempre. Que dizes?

A princesa Sibela aproximou-se então de Estupidus e pôs-lhe a palma da mão sobre o peito, exclamando depois:

– Pobre rapaz apaixonado É doloroso vê-lo sofrer assim. Vamos então ajudá-lo! Depois, meu amor, viveremos num carinho sem fim – concordou a princesa Sibela, aproximando-se de Hércules.

Puseram-se então os quatro a caminhar num círculo imaginário, espaçados pela mesma distância e empurrando cada um dos pontos cardeais.

– Ah, veem além, no cimo daquela serra? – disse Hércules, apontando para o centro da passadeira. – Estamos quase a chegar!

Deram mais uma volta e aproximaram-se do centro. Criou-se então um silêncio entre todos na passadeira, que transpareceu um mistério despropositado para o público. Hércules desviou-se um pouco e deu um ligeiro toque com o pé a Enormus. Depois de o gigante simular que empurrava, pelo ar rarefeito, um pedregulho do tamanho do mundo, retomaram o movimento circular, como se subissem pela escadaria em caracol da torre. Pararam depois e abraçaram-se, rodopiando pela história. Ao passarem próximo das cortinas envolveram a Ritinha e retornaram ao centro. Afastaram-se e suspiraram todos em profunda admiração pela sua beleza angelical. De vestido branco, tinha uma tiara de giestas sobre a cabeça, adornada com malmequeres. A admiração espalhou-se também pelo público. Numa família de particularidades, aquela princesa equilibrava a beleza do mundo. Também Miguel não tirava os olhos dela, à espera de um sorriso casual que lhe confirmasse o desejado amor. De rosto fechado, ela manteve a timidez pregada no chão, à espera que os olhares se desvanecessem. Hércules afastou-se então deles e passou junto do público, maldizendo a sua sorte:

– Vim mesmo em má hora. Por pouco ficava com a bela, assim calhou-me esta… coisa. Mas, a ver vamos! Não há mal que sempre dure…

– Nem bem que nunca acabe! – completaram os espetadores.

Sombras de Silêncio #171

Comentários