Com ou sem certezas, Miguel ficou agradado com a possibilidade de não perder tudo num dia, restando-lhe a esperança que o futuro, depois de acertar contas com o destino, lhe pudesse restituir o sonho do amor.
– Querem ver que o rapaz enganou-se no caminho! Ó Estupidus?!
– Agora que disseste sim, nã podes voltar atrás – disse Miguel, estendendo-lhe a mão para formalizar o compromisso, ansiando, de forma nervosa, pelo toque dela.
– Se não fores é que nunca hei de gostar de ti – respondeu ela, cruzando os braços e firmando um rosto carrancudo.
Miguel decidiu ceder na sua vontade, confiante de que haveria de conseguir demovê-la das más intenções que algum demónio lhe segredara durante algum sonho de ilusões frustradas. Arredou então as cortinas e seguiu em frente, indo até ao centro da passadeira, deambulando o pensamento entre os dizeres que Hércules lhe incumbira de proclamar e o diálogo que mantivera com a sua princesa.
– Finalmente apareceu o rapaz! – exclamou Hércules – O que é que te fez tardar?
– ‘Tava a tratar de coisas da minha… princesinha – disse Miguel, depois de um breve interregno, misturando sentimentos e diálogos entre a realidade e a ficção.
– Minhas senhoras e senhores, apresento-vos o verdadeiro cavaleiro, muito apaixonado pela sua… princesinha – disse Hércules, erguendo os braços na direção do rapaz e apelando a uma salva de palmas do público, dissimulando a insatisfação.
Miguel ergueu o olhar para as inúmeras pessoas que ali estavam, especadas numa alegria contagiante. Um receio sem nome tomou então conta de si e sentiu-se a desaparecer em vergonha, rodeado de olhares inconfidentes.
– Como estava eu a contar – continuou Hércules, rodeado por Enormus e pela princesa Sibela –, quando eu andava à procura da torre, de onde salvei a minha querida princesa, encontrei este que aqui vedes, o Estupidus. Ele disse-me que logo depois de a minha Sibela ter sido salva da torre, outro rei colocou lá outra princesa, que também está à espera do seu cavaleiro. Porém, dói-me o coração ver este perdido, sem conhecimento algum de como funcionam as histórias de princesas aprisionadas em torres, por estar disposto a lá ir para a salvar. Já olharam bem p’ra ele? Acham que ele é capaz?