Pouco depois, o padre adiantou que seria melhor tratar do funeral ainda naquele dia, pela tardinha, no sentido de lhe dispensar as exéquias com a maior brevidade possível, salientando que os suicidas tinham mais contas que prestar a Deus. Arnaldo e Cina não gostaram da sugestão do padre; queriam recambiá-la para onde Carlos a tinha ido buscar e não estavam dispostos a partilhar a eternidade com ela na terra familiar. Arnaldo, num propósito sorrateiro, chegou-se então ao padre e adiantou-lhe que a cunhada, em vida, deixara claro que queria ser enterrada junto da sua família do Barreiro. O padre anuiu, mas garantiu-lhes que isso iria ser uma carga de trabalhos a que eles se iriam sujeitar desnecessariamente. Ainda assim, os Fernandes insistiram. Após duas viagens de comboio, outras duas de cacilheiro, meia dúzia de papéis, várias conversas e menos escudos no bolso, Arnaldo regressou à quinta com a certeza de que o descanso eterno não valeria tanto investimento, também porque ficara com o cheiro da cunhada entranhado no juízo. Cina julgou a desforra pela infidelidade do marido muito própria e até irónica.
O tempo dispersou-se com a mesma cadência por todo o lado, como tinha sido desde sempre e assim continuaria, alheio às vontades e simpatias dos incautos. Simão casou-se no verão seguinte com Clotilde e vieram a alugar uma casa na Azambuja, que acabariam por comprar alguns anos depois. Ele meteu-se no negócio das vendas e juntos criaram uma dezena de filhos. Arnaldo e Cina viveriam ainda longos anos. Cina faleceu primeiro, de um ataque cardíaco. Arnaldo vagueou pela solidão da tristeza durante o resto dos seus dias, falecendo de arrependimentos variados cerca de dois anos depois.