Rota Rios e Levadas

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No passado dia 22 de março de 2015, no dealbar da primavera, foi inaugurado o primeiro Percurso Pedestre de Pequena Rota (PRM1) do concelho de Oliveira de Frades – «Rota dos Rios e Levadas». Tratou-se de uma iniciativa integrada no Programa das Comemorações do Dia Mundial da Floresta em Lafões (ação conjunta dos Municípios de Oliveira de Frades, S. Pedro do Sul e Vouzela). O geocaching também se juntou à comemoração e os Gabinetes de Turismo, Técnico Florestal e de Cultura de Oliveira de Frades organizaram o evento Geocaminhada “Rota dos Rios e Levadas”. Para apimentar ainda mais iniciativa foram colocadas várias caches pelos principais motivos de interesse do percurso.

TrackSinalização

O PRM1 «Rota dos Rios e Levadas» é um percurso circular com certa de 13 quilómetros de extensão, classificado como dificuldade elevada, com uma duração aproximada de 4 horas. O track do percurso poderá ser analisado e descarregado aqui. Tem início e final na aldeia da Lavandeira – Vila Chã, perto da EN16. Durante a inauguração foi ainda considerado um percurso alternativo, com cerca de 8.5 quilómetros, de dificuldade inferior, para crianças/adultos com menor resistência física ou com vertigens. Os participantes foram acompanhados por locais que conhecem o trilho e pelo biólogo Paulo Pereira, que fez uma visita-guiada sobre a fauna e flora local.

Este percurso guia-nos por levadas, rios, moinhos, caminhos e carreiros ladeados de bosques com densa vegetação, ricos de memórias e lendas. Além da paisagem moldada pelo trabalho de gerações sucessivas, podem, também, ser visitados espaços naturais associados a lendas e histórias  do passado mais distante.

Rio GaiaA Gruta dos Mouros, os lameiros e as escadas antigas utilizados em tempos como serventia para cultivar os férteis terrenos junto ao rio, são agora colocados à nossa disposição para uma viagem maravilhosa no presente, pelo passado.

As levadas servem-nos de trilho durante grande parte do percurso. Foram estas, nas gerações passadas, essenciais para a sobrevivência do povo local. Por elas corria a água que irrigava os campos e lameiros, de onde saía o sustento de todas as famílias. Sempre com o rio como fundo, ora caminhando na margem, ora afastando-nos para contemplar, ao longe, o conjunto paisagístico que se formou, deparamo-nos com a imensa beleza deste local.

Descendo à ponte de pedra pelo troço do antigo Caminho do Sacramento, passando a pedra má e seguindo o caminho que nos levará até à antiga ponte de pau. Noutros tempos, o Caminho do Sacramento era o acesso mais rápido para a sede de Freguesia (Arcozelo das Maias). Por ele passavam os funerais; existem ainda algumas alminhas onde se parava para rezar durante o percurso. A ponte de pedra e a ponte de pau eram dois pontos importantíssimos para esta passagem; sempre que a ponte de pau era levada com as cheias havia a preocupação de ser reconstruída de imediato.

A Pedra Má está repleta de mistério e história! Nela se podem ainda observar várias inscrições e cruzes; seriam as delimitações do Convento de Santa Cruz de Coimbra, ao qual pertencia este território. A denominação da pedra ficou a dever-se ao fato de ali ter sido encontrado um homem morto, talvez assassinado; as cruzes estariam também relacionadas com este acontecimento.

No Cadavau, repleto de histórias do imaginário das gentes locais, podemos descansar um pouco e observar o poço, a mina dos mouros, a ponte de pau e alguns moinhos, já perto do rio Gaia. Persiste na cultura popular a Lenda da Mina dos Mouros – “Conta-se que uma vaca era avistada várias vezes a rapar no Cadavau. No entanto, ninguém sabia quem era o dono. Um dia, um homem curioso e destemido esperou a vaca e agarrou-se-lhe ao rabo, indo atrás dela. A vaca entrou na mina com o senhor agarrado ao rabo e quando chegou bem lá dentro viu vários mouros a trabalhar (alfaiates, ferreiros, carpinteiros…), estes disseram-lhe que só o deixavam ir de novo embora porque ele vinha com quem vinha.” Este poço e esta mina estão cheios de misticismo por uma razão especial, foram feitos praticamente em cima do rio. Portanto, não seriam com certeza para retirar a água.

Código de Conduta (fonte - ICN)Descemos, apenas o suficiente para contemplar a beleza da queda de água, onde se juntam o rio Gaia e a ribeira de Lavandeira. Continuando pelas levadas do Louredo, onde os loureiros predominam, subimos ao Cabeço da Feitiça. Subsistem também lendas sobre este cabeço –  “Diz-se que ali andava uma feiticeira a guardar ovelhas e a fiar lã, quando esta encheu o fuso, desenrolou-o e deu a volta ao cabeço passando este a ser dela”.

Voltamos depois a descer ao rio Gaia para reencontrarmos os Moinhos – no sítio da Retorta existem ruínas de alguns moinhos que, segundo os habitantes mais antigos, seriam os locais onde se faziam, a partir da árvore do amieiro, as barricas para os tradicionais ovos-moles de Aveiro.

Deixando para trás, definitivamente, as margens destes rios dirigimo-nos à Ribeira de Pias ou Ribeira dos Tombos, onde se podem ver as ruínas do antigo lagar de azeite. Após uma pequena marcha chegamos à povoação de Porcelhe, onde pode ser vista a velhinha capela de Nossa Senhora do Pilar. Deixamos para trás o casario de Porcelhe, retomando o Caminho do Sacramento. Aqui podemos observar a Pedra dos Mortos (pedra de granito plana no topo), onde era pousado o caixão para uns momentos de descanso, durante o cortejo fúnebre, pelo sinuoso Caminho do Sacramento. Logo de seguida alcançamos a Aldeia de Vila Chã. Termina assim o nosso percurso, chegando de novo à Lavandeira.

Flora – A Vegetação é diversificada, com inúmeras variedades de fetos, de flores silvestres, de arbustos e grande diversidade de árvores. Nas margens do rio Gaia encontramos com alguma frequência o lodoeiro (esta árvore era deixada crescer o suficiente para dar madeira da qual eram feitas as cangas para as vacas). São, ainda, abundantes os carvalhos, os louros, os choupos, os amieiros, os sabugueiros, os salgueiros e muitas outras espécies ribeirinhas.

Fauna – Própria das zonas ribeirinhas, poderá encontrar trutas, enguias, lagartos de água, tritões, rouxinóis, cotovias, pica-paus vermelhos, mochos galegos, raposas, javalis, gatos-bravos, texugos, entre outros.

Antes da caminhada, a organização do evento disponibilizou um pequeno-almoço muito reconfortante com as melhores iguarias da região. Durante o percurso foi ainda fornecido um reforço para que não faltassem o ânimo e as forças para vencer os quilómetros. No final, foram disponibilizados os meios para um almoço-convívio em modo de piquenique e os participantes tiveram ainda a possibilidade de almoçar na sede da Associação Académica de Santa Cruz. E se as condições de participação foram deveras apelativas, num percurso já de si fantástico, resta apenas reforçar a forma calorosa como os caminhantes foram recebidos pela organização do evento. Estamos já todos à espera do próximo!

Levada

Contactos Úteis:

Equipa de Busca e Salvamento: 910 528 112

GNR: 232 761 236

Bombeiros: 232 761 115

Número Europeu de Socorro: 112

Incêndios: 117

 

Relatos de alguns participantes:

AR^3: “Já nos tinham alertado para a organização deste evento com bastante antecedência. Como os eventos em Oliveira de Frades são dos melhores a que temos ido ficámos logo com o dia na agenda guardado.”

Caracois Turbo: “Para nós, que gostamos de água e de rios, este percurso foi fantástico, e com tudo o que adoramos.”

pmendes100: “A rota está fantástica em termos de percurso e paisagem! Um bom trabalho! Quanto ao evento: uma organização perfeita a que já nos habituamos!”

pricteixeira: “Parece-me que seríamos mais de cem pessoas, a organização em nada falhou e depois de ler alguns registos todos ficaram bem impressionados com esta excelente geocaminhada.”

kidloco: “Esta rota dos rios e levadas vai ser um caso de sucesso, é muito linda, com imensas quedas de água e recantos rodeados de uma vegetação impressionante.”

Henriquez: “Adorei todo o evento e percurso, assim como todo o apoio que nos foi dado pelo Município! Pena não existirem mais autarquias assim!”

Artigo escrito em conjunto com Natália Silva e Filipe Soares, publicado na GeoMagazine #14.

Caminhantes


 

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