Paris, sexta 13

Paris, sexta 13

Paris, sexta-feira 13, novembro 2015. Vários atentados perpetrados por terroristas levaram a morte à cidade luz. Longe dos atentados, pela noite dentro, ficamos com o olhar pregado na televisão à espera que o manancial de notícias pare e que alguém venha esclarecer que é tudo mentira; foi apenas uma brincadeira de mau gosto e ninguém morreu. Porém, essa notícia nunca chega. Continuamos a ver imagens de pessoas assustadas que vagueiam. Alguns sobreviventes arrastam corpos pelas ruas. Os bombeiros revezam-se num apoio que parece infrutífero. As redes sociais multiplicam-se em partilhas imagens e vídeos do terror. O tempo passa e o número de vítimas continua a aumentar. No meio da incompreensão e desorientação, perguntamo-nos de onde provém este ódio que nos rouba a humanidade?

Não é fácil perceber as pontas desta vertigem de acontecimentos. Se quisermos ser preciosistas, analisando as diferentes ações e reações, podemos recuar vários séculos até aos acontecimentos que levaram à queda de Troia. É preciso praticar o perdão geracional. Ainda assim, no presente, é fácil identificar o dedo assassino do auto proclamado Estado Islâmico. Existem naturalmente diferenças religiosas, ou pseudo-religiosas, em causa. Porém, não devemos misturar a religião com estes atos terroristas. As religiões sempre foram usadas e distorcidas consoante os interesses e as vontades do Homem. Não podemos nem devemos atuar sobre o pretexto, mas sim sobre o motivo.

Resolver minimamente este problema afigura-se um ciclo interrupto de investidas militares. Deveriam também existir sanções políticas e comerciais; o bem da humanidade tem de sobrepor-se aos interesses de alguns. Porém, é certo que o tempo trará reminiscências mais ou menos ocasionais destas diferenças. A nossa natureza pode ser tão boa quão terrível. O pior que nos poderá acontecer, de forma a comprometer o futuro, é as pessoas de boa índole se preocupem e se esforcem menos do que as contrárias nesta luta incessante pela paz.

Apesar de os atentados de Paris poderem produzir alterações na forma e no controlo da receção dos refugiados que chegaram e continuarão a chegar à Europa, é muito importante não colocar em causa esse mesmo apoio. No momento em que o fizermos começaremos a perder esta guerra. Winston Churchill recusou-se a reduzir o orçamento da Cultura para apoiar mais o esforço militar inglês durante a Segunda Guerra Mundial, justificando que era precisamente pela Cultura que valia a pena lutar. Quanto mais depressa regressarmos à normalidade mais perto estaremos de voltar a ser Europa. Este continente deve continuar a reconstruir-se numa esperança de humanismo, de liberdade, de igualdade e de fraternidade.

Paris, sexta 13

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